Feira da Vigia junta estudantes e pais…
RECRIAR COM ÊXITO. Uma rasa de milho e um litro de feijão, duas maquias de tremoço e meia arroba de batata. Fruta da região, cestas de ovos e doces tradicionais. Galinha caseira envolta em cercadura de malha. Meia dúzia de bolos de centeio ou de trigo, cozidos de madrugada no forno de lenha da Ti Gaudência. E uma caneca de vinho tinto prá viagem e duas sardinhas, assadas a preceito, ali na taberna do Ti Elídio. Era a «Feira dos 14», na Vigia, que curiosamente não se realizava há mais de 70 anos, e que regressaria à povoação no Verão de 1998.
Implementado há dois anos, pelo Instituto de Inovação Educacional IIE), para «descoberta das nossas raízes», seria prontamente agarrado pelas escolas da zona (Lomba, Vigia, Lombomeão e Santo André), e levado à prática com a ajuda logística e financeira da Câmara Municipal e Junta de Freguesia.
Apoio decisivo que tornaria possível a recriação do projeto da Área Escola, chamado «aprender partilhando», que, entretanto, tinha sido chumbado pelo Instituto. O que desgostou a presidente do Conselho das Escolas, Anabela Ribeiro da Cunha, para quem a iniciativa tinha «elevado nível pedagógico, junto da comunidade local, e viria mesmo a constituir, no futuro, um polo dinamizador de consequências muito positivas».
Isso mesmo foi reconhecido pelo então presidente da Câmara Municipal, tendo Carlos Bento desafiado a Junta de Freguesia de Santo André, para que a Feira da Vigia se viesse a realizar mensalmente. Elogiando publicamente o trabalho desenvolvido, e o elevado «profissionalismo e boa vontade» das professoras, que tornaram possível a realização do certame, o autarca deixou claro que a recriação da feira até «deveria ser seguida noutras freguesias».
O brilhante resultado foi partilhado por dezenas de crianças das escolas, que, vestidas ao rigor da época, não tiveram mãos a medir, face à inevitável procura dos produtos expostos, que terão esgotado em pouco mais de duas horas. Os preços não foram inflacionados, explicaria então a presidente do Conselho das Escolas, confirmando que «as pessoas não se deram conta que utilizamos as medidas da época». Dito de outro modo, como há setenta anos, afinal «um litro de feijão, por exemplo, não corresponde a um quilo do mesmo produto» …
De referir que, por decisão unânime dos responsáveis escolares, a receita da venda destinou-se à compra de diverso material – uma medida de exceção, para fazer face aos sucessivos «assaltos», de que tinham sido vítimas as escolas do município de Vagos. Só no decorrer daquele ano letivo, haviam sido espoliadas, entre outras, fotocopiadoras, vídeos e outro material pedagógico.
Eduardo Jaques