Caro leitor, passaram cerca de 8 meses desde que passei oficialmente para o clube dos casados. E se eu ganhasse um cêntimo pela quantidade de pessoas que já me perguntam por filhos, estaria rico por esta altura. Aquilo que sinto é que já não basta estar casado, agora é-me exigido que cumpra com mais um requisito: começar a gerar a minha prole. E é-me exigido principalmente por quem é próximo, apesar de eu já ter alertado que não gosto desse tipo de questões. “Mas eu não fiz a pergunta por mal”, respondem-me. Acredito! Muitas pessoas não fazem essa pergunta por mal. Mas podemos ser melhores do que isso e não a fazer de todo, certo?
Fico imensamente feliz pelos meus amigos que decidiram ter filhos. Mas só depois de os filhos nascerem é que se vão partilhando as histórias das dificuldades atravessadas. Afinal, quando a dificuldade fica para trás, deixa de ser uma vergonha, não é? Porque o suposto é ter filhos e torna-se complicado assumir, perante o mundo, que há dificuldades nisso. Já são vários os casos de amigos que admitiram – depois do nascimento – que houve dificuldades ao longo de vários meses, para que o filho fosse gerado. Um casal próximo até confessou que, quando precisou de iniciar tratamentos, acabou por conhecer várias situações similares nas redondezas. Casos que não se falam. Casos em que a vergonha não passa pela porta fora. Porque o suposto é ter filhos e ninguém faz perguntas por mal, não é?
E quando nasce o primeiro? Deixamos de nos dirigir aos pais e começamos a perguntar aos pequenos se não gostavam de ter um mano ou uma mana. Pois fique a saber, caro leitor, que recentemente também soube de uma mãe que perdeu um filho às 30 semanas de gestação. A resposta à pergunta do mano ou da mana já não existe porque a prioridade passou a ser a sanidade mental dos pais e o luto não se faz da noite para o dia. Mas ninguém faz perguntas por mal, não é?
Meu caro leitor, eu sei que as coisas não mudam da noite para o dia. Não é por eu falar disto hoje que amanhã vamos todos mudar o nosso comportamento. Mas podemos tentar ser um pouco melhores a cada dia, certo? Ou então vamos ser só aquele palerma que me perguntou por filhos quando eu andei por aí a tentar sensibilizar para a dificuldade que alguns casais passam. A sorte dele? Não ser aquele casal que demorou 8 anos a conseguir, passando por períodos conjugais e pessoais bastante difíceis, no entretanto. Mas ninguém faz essa pergunta por mal, não é? E os filhos? Quando nascem?
Nuno Ribeiro Margarido
Jornalista