OPINIÃO

Falando um pouco sobre Amália Rodrigues

Cantinho de João Ferreira

                Apesar do seguinte artigo versar sobre Amália Rodrigues, também vou ressalvar o meu nonagésimo segundo aniversário a 10 deste mês e no nonagésimo do meu irmão Armando “Duque” no dia seguinte.

                No nosso País, após o primeiro canal da televisão começar a transmitir em 1957, trabalhava eu na pintura de casas para o Sr. Mário de Pinho Sindão. Fomos ver um jogo ao Estádio das Antas e na vinda parámos defronte a uma montra em Aveiro: na televisão cantava a fadista… e do lado de fora nós assistíamos a’ “O céu da minha rua”.

                Até antes disso, quando ainda trabalhava em Lisboa, ia várias vezes a um bar onde ouvia no gira-discos Amália a cantar o seu fado: “Fado Amália”. E era assim: “Amália / quis Deus que fosse o meu nome / Amália / acho-lhe um jeito engraçado / bem nosso e popular / quando oiço alguém gritar / Amália / canta-me o fado”.

                Quanto aos filmes, que abriram caminho para a sua carreira em França, Amália participou de vários, dos quais destaco: “Capas Negras” com Alberto Ribeiro, “Fado, história de uma Cantadeira” com Virgílio Teixeira, e por último “Os Amantes do Tejo” onde cantava, entre outros, “O Barco Negro” de que todos conhecem refrão: “Eu sei, meu amor / Que nem chegaste a partir / Pois tudo, em meu redor / Me diz qu’estás sempre comigo”. Este último tema tem uma história curiosa: o próprio Orfeão de Vagos ainda hoje o canta, e uma menina do Boco, Andreia Alferes, com nove anos à época cantou também num concurso do qual eu era membro do júri.

                Mesmo tendo sido a favor dela, ela não ganhou na altura. Mas, ainda hoje é fadista e tendo feito disso carreira, interpretou temas de José Afonso no auditório do CER pelos 49 anos do 25 de abril, os quais rejubilei ao ouvir. Tenho conhecimento de todos os filmes em que Amália “entrou”, exceto um que foi filmado no Brasil, que ao que sei contava a vida de um escravo e ela cantava uma quantidade de Fados tamanha que há até quem tenha dito “em demasia”. Amália também entrou no primeiro filme colorido português: “Sangue Toureiro”, com Raúl Solnado e Diamantino Vizeu.

                Em 1971, pelos meus 39 anos quando fui para Oyonnax trabalhar, a primeira coisa que lá decorei da língua francesa foi “La Maison Sur Le Port” que de título português era “A Casa da Mariquinhas”, mesmo que não cantem a mesma história. A fadista chegou até a interpretar o papel de “Severa” no Teatro Monumental de Lisboa, onde entre outros versos cantou: “Vi o conde de alma viva / De pistola engatilhada / Ele de armas sabe muito / De mulheres não sabe nada.”

                No que toca à minha sorte, ouvi-a ao vivo nas Verbenas em Aveiro, já ela com alguma idade, só não tive oportunidade de lhe dirigir a palavra. Mais tarde, no entanto, quando o Eco de Vagos era propriedade minha, fui ao Palácio Foz nos Restauradores em Lisboa para renovar o porte-pago, e na vinda com a minha esposa comemos em Aveiro perto da estação de comboios. A televisão transmitia a notícia “a morte de Amália” … sendo que tinha passado à porta da casa, da mesma, horas antes, no caminho a pé para Santa Apolónia.

                Em 2001, os seus restos mortais foram transladados para o Panteão Nacional por decisão do Presidente Jorge Sampaio. Muito mais haveria a dizer sobre a melhor fadista que Portugal conheceu, vinda de família de fadistas, irmã de Celeste Rodrigues e prima de Diolinda Rodrigues, esta segunda até entrou no filme “Cantiga da Rua”, mas, ao que parece, falta-me espaço. No próximo artigo irei falar de como eu, João Ferreira, fui para a escola primária no tempo da Segunda Grande Guerra.

João Ferreira

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