EDITORIAL
Setembro é mês de recomeço da escola. É altura também de outros reinícios, mas o do novo letivo é sempre um dos mais marcantes – até porque se trata de educação, vital para a construção da nossa sociedade. Só que, desta vez, o voltar à escola significa também voltar às greves. O Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP) convocou uma nova greve, logo para a primeira semana de aulas, pela recuperação do tempo de serviço e contra uma série de outras reivindicações. Muito à semelhança das greves que foram convocadas ao longo de todo o ano letivo passado. No primeiro dia, o impacto nas escolas foi residual, com uma adesão abaixo do esperado. Mas o certo é que parece aproximar-se mais um ano tumultuoso, em que só se espera que impere o bom senso – que já parece ter começado a emergir.
Vagos foi um dos concelhos, no ano letivo transato, onde se sentiu bastante a greve nas escolas. Principalmente, nos primeiros tempos, em que chegou a haver polémicas entre os encarregados de educação e a direção do Agrupamento de Escolas, por não haver concordância quanto à permanência dos alunos no interior do recinto escolar, nas horas em que não tinham aulas. Mas, de norte a sul do país, o período letivo, com todas as greves à mistura, foi tudo menos pacífico.
Importa não esquecer um argumento, que já foi mais do que esgrimido, mas que, mesmo assim, parece que nem sempre é lembrado: as crianças e jovens que se encontram em idade escolar estão a sair de três anos letivos assombrados pela covid-19. São ainda incalculáveis as sequelas concretas da pandemia – ou melhor, dos tempos em que as escolas estiveram encerradas e em que imperou o ensino à distância – na educação de todos esses alunos. Mas já está se constatou que há lacunas nas aprendizagens, que perduram ainda hoje, mais de três anos após o início da pandemia. Por isso, é também importante ter em mente que estas crianças e jovens não podem continuar a ser prejudicados.
Defendo o direito à greve, defendo a luta pelos interesses dos trabalhadores das escolas – é impossível não os defender –, mas terá que haver uma forma de conciliar as duas batalhas: os direitos dos trabalhadores e o ensino de qualidade das crianças e dos jovens. Sem que uma prejudique a outra.
Aparentemente, muitos professores pensam da mesma forma. E a prova disso é que, a respeito da nova greve, Manuel Pereira, da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, deixou claro à agência Lusa que “mesmo com razões para fazer greve, os professores não iriam parar agora”, numa altura em destinada a conhecer os novos alunos, que “merecem todo o respeito”. Aplausos.
Salomé Filipe
Diretora do Jornal