EFEMÉRIDE

Afinal nunca faltaram dólares no Areão

EFEMÉRIDE

FEVEREIRO DE 1975. Estavam acompanhados pelo cabo-de-mar da Costa Nova, e apresentaram na Capitania o «maior interesse» na construção de uma pequena ponte na Gafanha do Areão. Possuíam um projeto e 90 contos (em dólares), oferecidos pelos emigrantes da freguesia, a trabalhar na América. Mas o estudo revelava que seriam precisos cerca de 900 contos, para a adjudicação da obra por empreitada.
Na altura havia dezenas de hectares de terrenos férteis abandonados, e oito famílias isoladas naquele lugar. Nas águas da ria já tinham desaparecido vários familiares, quando a passagem a vau nem sempre era tarefa fácil. Analisado o valor socioeconómico da obra, depressa se concluiu que «os objetivos a atingir mereciam bem os riscos», pelo que foi decidido avançar.
A madeira foi fornecida pelos Serviços Florestais, que cederam eucaliptos pertencentes às matas de Mira. O mais difícil foi o corte e transporte para o local, em que a ponte seria construída, e também a serração destinada a produzir as pranchas e demais tabuado. Da Figueira da Foz veio uma firma de corte, que trabalhou gratuitamente. Dois mestres especializados, foram cedidos pela Junta Autónoma do Porto de Aveiro (JAPA) e secção local da Junta Autónoma das Estradas (JAE), enquanto dois marinheiros e um carpinteiro fizeram parte da equipa de montagem e construção.
ATÉ VEIO A TROPA. Para a colocação de estacas (algumas com 12 metros) vieram dois batelões da JAPA e um bate-estacas da JAE, que cedeu uma motosserra e outras ferramentas. Havia despesas para contabilizar – trabalho da serração, transporte de materiais, compra de ferragens, tintas e betão, ajudas de deslocação dos mestres e salário justo do carpinteiro contratado. A população, dinamizada pela comissão de apoio, tratou da verba que era necessária: com o câmbio dos dólares americanos, obtiveram 250 contos, tendo o governador civil atribuido a verba de 50 contos.
Mas havia mais problemas. A empresa contratada não tinha meios para movimentar os enormes toros destinados à confeção de pranchas. Procedentes do Regimento de Infantaria 10, cinco vigorosos soldados vieram substituir os mecanismos hidráulicos inexistentes para a manobra. Três meses depois, estava a obra terminada, mas faltavam ainda os acessos à ponte: foi ensaibrada a estrada de aproximadamente um quilómetro, que se estendia até perto do mar.
Chegou agosto e havia que festejar. Então veio a banda [dos bombeiros] e o rancho, as autoridades também e muito povo. Junto à ponte houve festa rija com cabrito, carapaus e vinho tinto …

Com base na publicação do Cap. Fragata Alberto Faria dos Santos
In Revista da Armada N.O 68/maio 1977/ano VI

Eduardo Jaques

Sugestões de notícias