EFEMÉRIDE
MADRUGADA CANSATIVA. Em 1987, durante três dias (27 a 29 de julho), um incêndio de grandes proporções eclodiu na parte sul do concelho de Vagos. De origem criminosa, de acordo com relatos da época, o fogo irrompeu pelas 2,40 horas da madrugada, no limite do concelho (Gafanha do Areão e Poço da Cruz), ocupando, desde logo, uma extensa área florestal. O vento, que soprou com invulgar intensidade até ao raiar do dia, por um lado, e a configuração do terreno, arenoso e de acesso, limitado a determinado tipo de viaturas, por outro, dificultaram o trabalho das corporações de Vagos e Mira, as primeiras a chegar ao local da tragédia. Talvez por isso, e também devido à falta de água no local, as chamas viriam a ser combatidas inicialmente por «batedores», em detrimento dos «clássicos» pronto-socorro médio e pesado todo-o-terreno.
Um trabalho «extremamente cansativo e infrutífero», podia ler-se num jornal de âmbito nacional, que acompanhou desde a primeira hora a evolução do sinistro. Após ter sido avaliada a gravidade do mesmo, foram pedidos reforços a diversas corporações dos distritos de Aveiro e Coimbra. As operações, envolvendo centenas de operacionais e 38 viaturas de 18 corporações, sob a liderança do comandante António Machado, dos Bombeiros Velhos, decorreram com o auxílio de 25 homens, pertencentes ao Batalhão de Infantaria de Aveiro (BIA). No combate ao incêndio, foram ainda utilizados meios aéreos, deslocados de Lousã para a zona, 2 helicópteros e 1 avião C 130 da Força Aérea Portuguesa, para além do pessoal e máquinas pertencentes aos Serviços Florestais, Câmara Municipal de Vagos, e alguns particulares.
APOIO TOTAL. Recém-eleito, o presidente da Câmara, João Rocha, que estava acompanhado pelo vereador Mário Pinho, visitou o local do sinistro logo às primeiras horas da manhã. E disponibilizou pessoal e viaturas, para transporte de leite e géneros alimentícios para os bombeiros. Por sua vez, a Cooperativa Agrícola de Vagos viria a ceder carros-cisterna, normalmente utilizados na recolha do leite, que serviram para transporte de água. No local esteve, também, o Governador Civil de Aveiro, Sebastião Marques, para se inteirar da progressão do incêndio e dos meios para o combater.
Registo de números: 60 horas durou a intervenção dos bombeiros; 1285 kms percorridos pelos bombeiros de Vagos; 842 litros de gasóleo e 200 de gasolina gastos: 437 bombeiros e 38 viaturas combateram o fogo; 18 corporações presentes; 2.600 hectares de área ardida (mil em Vagos); 905 refeições servidas (365 só no primeiro dia); 1 bombeiro, comandante César dos Bombeiros Novos, intoxicado com gravidade; 100 contos rendeu o primeiro auto-stop depois do fogo.
Eduardo Jaques