O CANTINHO DE JOÃO FERREIRA
De entre as coisas antigas que guardo no meu arquivo está uma foto que irá aqui ser publicada, que me traz à mente um mundo de recordações, que julgo serem de interesse para as jovens leitoras e leitores deste jornal.
A foto em questão, tem quase setenta anos e é do tempo dos meus vinte e três anos e dois meses e foi “tirada” no tempo em que a Vagos, pelas festas do Divino Espírito Santo e Nossa Senhora de Vagos, na terça feira, as festividades que na sua maior parte, depois da partida da gente de Cantanhede era realizada à esquerda da capela de S. João, em pinhal que hoje já não existe. Ali vinham nesse tempo, em maio de 1955, data da fotografia os fotógrafos com as máquinas “à lá minuta”, tirar as fotos a quem desejasse tê-las por três escudos e cinquenta centavos, que era quase o que eu ganhava nesse tempo numa hora a trabalhar de pintor, pois nessa altura ganhava trinta e dois escudos, nas oito horas, um dia de trabalho.
Nessa altura, este modesto articulista do “Eco de Vagos”, trabalhava na arte de pintor de habitações, em Cascais e arredores e saudoso, veio a Vagos passar parte da festa. E digo parte da festa pois o então patrão de J.F. só pagou a este no domingo da festa e o “pobre” só teve possibilidade de vir para Vagos já no comboio da noite, que o trouxe de Lisboa até Aveiro, onde chegou na madrugada de segunda feira. E para poupar o agora articulista fez a viagem a pé até à Rua da Central, em Vagos. Nesta foto de que já contei onde foi “tirada” e em que condições apenas está vivo o articulista, que está em primeiro plano, à esquerda, que sou eu, J.F., pois faleceu, há tempos o que está em pé. que foi o amigo de infância Manuel Pedro das Rocha Martins. Na foto à esquerda estão também a sra. Saudade Almeida, que foi mãe da senhora Olívia, que mora no prédio onde estou a viver, com meu filho, João Álvaro, a esposa deste, sra. Anabela e a sra. Elvira.
Referindo-me ao tempo em que a foto foi “batida” pela máquina “à lá minuta” saiba-se que o preço da foto era de três escudos e cinquenta centavos, quando eu, J.F. já pintor auferia a quantia diária de trinta e dois escudos.
Vejam as leitoras e os leitores como os tempos mudaram em cerca de sessenta e sete anos, que é o tempo que a foto tem.
Há, porém, outras coisas que eu gostaria de lembrar e que são referentes a esses tempos tão “amargos”.
A viagem no comboio elétrico de Cascais para Lisboa ou vice versa custava ao tempo quatro escudos e dez centavos, ou seja um tostão por cada quilómetro. E saiba-se que o tostão, que já há muito não existe, era a décima parte do escudo, moeda que foi há muitos anos substituída pelo euro.
E já agora permitam-me que diga, em referência, que o autor deste modesto trabalho jornalístico, contraiu matrimónio quatro anos e alguns meses depois e, como artista de pintura de casas, em trabalho para um credenciado mestre da Quinta do Picado auferia nas oito horas de trabalho trinta e cinco escudos e, após o casamento este mestre aumentou-o mais um escudo por dia, passando a auferir trinta e seis escudos diários.
João dos Santos Ferreira