Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas reuniu em Vagos
Após ter terminado a fase aguda da pandemia de covid-19, com todos os constrangimentos que causou às instituições de solidariedade social, as Misericórdias portuguesas pensavam que seria altura de retomarem a sua atividade com normalidade. Mas, entretanto, surgiram problemas novos, agravados pela guerra da Ucrânia, que vieram colocar em causa a sustentabilidade das organizações. Essas dificuldades estiveram na ordem do dia da reunião do Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), que decorreu, no dia 17, em Vagos. Manuel de Lemos, presidente da UMP, falou ao Eco de Vagos no final do encontro e garantiu que “sem mais apoio do Estado, as Misericórdias não conseguem fazer o seu trabalho”.
“Na pandemia, os custos cresceram, mas de alguma maneira houve um movimento grande de solidariedade à volta do setor, que minimizou esses custos e que se traduziu nas contas das instituições. Julgávamos que isso tinha acabado e que íamos voltar à nossa vida normal. Mas não acabou”, enquadrou Manuel de Lemos.
Segundo presidente da UMP, “por causa da globalização e da transição energética, apareceram problemas novos, que depois foram potenciados por esta guerra horrível que o Ocidente vive, através da Ucrânia”. O aumento do custo dos bens alimentares, da eletricidade e do gás vieram dificultar as contas de quem trabalha, diariamente, no setor social. “Tudo isto acompanhado do aumento dos salários mínimos, que sabemos que são justos, mas que se traduzem também nas contas das instituições. E que criam problemas novos, de impossível resolução, se não houver ajudas do Estado”, deixou claro Manuel de Lemos.
O presidente da instituição que coordenado as Misericórdias Portuguesas sublinhou o facto de, recentemente, pela primeira vez, a UMP ter sido recebida pelo ministro das Finanças. “Obviamente que ele não é o ministro setorial, não é a ele que cabe tomar decisões, mas tivemos a oportunidade de dizermos o que estamos a fazer e como. E também de falar das dificuldades que temos ao nível da sustentabilidade”, adiantou.
É que com “as famílias a terem os seus orçamentos esticados e os idosos a terem as reformas que têm”, Manuel de Lemos entende que a margem de manobra para as Misericórdias conseguirem receitas “é pequenina”. “Por isso, cabe ao Estado. Nós não nos substituímos ao Estado, apenas cooperamos. Por isso, temos que dizer: ou pagam mais ou não fazemos, porque não conseguimos mesmo fazer”, frisou o presidente da UMP.
Falta de mão-de-obra
Numa altura em que a UMP está a preparar a negociação habitual com o Governo, que começa em Janeiro, há outro problema com o qual as Misericórdias, assim como outras instituições, se têm deparado: a falta de mão-de-obra. Problema esse que, na visão de Manuel de Lemos, só será passível de resolução recorrendo à imigração. “Só o conseguiremos resolver se trouxermos imigrantes. Mas, para fazemos isso, precisamos, obviamente, de criar condições para essa gente se fixar. E, mais uma vez, precisamos de lhes pagar. Estamos a falar de pessoas para lidar com pessoas. Não é a mesma coisa do que trazer estrangeiros para apanharem uvas ou trabalharem na terra”, sublinhou, acrescentando que é necessário recrutar “pessoas minimamente especializadas”.
Como forma de tentar minimizar os constrangimentos causados pela falta de mão de obra, a UMP encontra-se, atualmente, em cooperação com o Governo, a tentar celebrar um acordo com as Misericórdias brasileiras. O objetivo é, assegura, terminar com a “rotatividade enorme” que está a existir, uma vez que as instituições recrutam trabalhadores, mas, como não conseguem competir com outras ofertas, a nível salarial, acabam cedo por os perder. “Fixar pessoas” é, por isso, prioridade.
“Por causa da globalização e da transição energética, apareceram problemas novos, que depois foram potenciados por esta guerra horrível que o Ocidente vive, através da Ucrânia”
Manuel de Lemos
Presidente da UMP