EFEMÉRIDE
TRANSIÇÃO EUROPEIA. Sendo a primeira vez que um Presidente da República visitou oficialmente Vagos, já em fevereiro de 1966 por aqui tinha passado o presidente Américo Tomás. A caminho da Fábrica da Vista Alegre, onde ia agradecer a oferta de um serviço de jantar, Tomás acabou por parar em Vagos, mas nem sequer foi recebido na Câmara Municipal. A sua ida aquela unidade fabril, onde trabalhavam centenas de vaguenses, ficaria muito «cara» à administração, que passado um mês procedeu a um aumento de cinco escudos. Ou seja, os trabalhadores passaram a ganhar por dia vinte e dois e quinhentos (22$50), em vez dos dezassete e quinhentos (17$50).
Primeiro cantaram-lhe as «Janeiras», confirmando o recado de que «o povo está muito descontente». Depois, em tom sempre ameno, suscitaram dúvidas quanto ao problema da agricultura e do mercado de trabalho. A todos, Jorge Sampaio deixou uma palavra de confiança. O presidente da República, que terminou, já de noite, na Escola Profissional de Agricultura (EPAV) o seu périplo pelo concelho de Vagos, foi confrontado por jovens empresários agrícolas para os problemas do sector.
Sampaio, que admitiu que a agricultura europeia continua a ter «problemas de transição complicados», devido em parte à sucessão de administrações com requisitos diferentes, considerou que a formação é cada vez mais precisa, especificando que já existem sectores onde a competitividade marca a diferença, numa alusão à fábrica de porcelanas «Costa Verde», que visitara antes.
A este propósito diria que as fortes concorrências de Leste e da China, fazem com que «cada vez se tenha de trabalhar mais e melhor, em ganhos de produtividade, para sermos concorrenciais». Preocupado com o futuro das escolas profissionais Jorge Sampaio, que ouviu, para além dos empresários, testemunhos de dois antigos estudantes inseridos, com sucesso, no mercado de trabalho, sublinhou que, independentemente dos problemas financeiros que geralmente estão presentes, o ensino profissional tem desempenhado no país «papel muito significativo». «Por vezes quando se sai do 12º ano não se sabe fazer coisa nenhuma», acrescentou.
EXEMPLOS DE SUCESSO. Admitindo que, felizmente, continua a haver «exemplos de sucesso», e caminhos possíveis com «muito trabalho», Sampaio recordou que a maior parte das empresas luta com falta de vocações profissionalizantes. Situação que, conforme referiu, pode ser colmatada pelas escolas, enquanto não forem substituídas por novas vias porventura mais sérias no ensino tradicional.
Antes, Dina Oliveira, presidente do Conselho Executivo da EPAV, já tinha admitido que o sucesso da escola, que considerou ser «um bom exemplo», se prolonga para além do percurso escolar. Aquela docente, que pediu a intervenção de Jorge Sampaio para a desafetação de uma área florestal de 24 hectares, para que a escola «possa expandir-se», mostrou-se preocupada com os constrangimentos que a mesma poderá vir a ter após o III QCA, e também com o futuro dos professores e funcionários, que ainda hoje não estão vinculados a qualquer ministério.
Dina Oliveira, que apontou a urgência em definir regras para as escolas profissionais públicas, que permitam «a continuação das dinâmicas já desenvolvidas», a solução passa também por «repensar a política agrícola como fator de desenvolvimento do país».
Antes de dar por concluído o debate, o presidente da República foi ainda surpreendido com um pedido da Comissão de Defesa da Gafanha da Boa Hora, que lhe entregou um memorando com os principais problemas com que se debate a freguesia. Legalização da conhecida «Estrada de Alta Tensão», questões agrícolas e ambientais e ainda problemas relacionados com a orla costeira, constam do dossier apresentado pelo advogado Manuel Moreira.
Eduardo Jaques