Cantinho de João Ferreira
Para quem leu o Cantinho de outubro: ainda que tenha prometido falar mais no livro de Armor Pires Mota “75 anos Bombeiros Voluntários de Vagos”, vou falar de coisas diversas da minha infância, quando Vagos era uma terra diferente.
Eu, João dos Santos Ferreira, nasci em Vale de Ílhavo no concelho de Ílhavo a 10 de fevereiro de 1932. Vim com a minha mãe, Rosa Ferreira, o seu segundo filho Manuel Armando Ferreira, e o nosso avô Constantino Ferreira para Vagos. Isto porque o meu avô quis voltar à terra de onde era natural depois de viuvar. Tinha-se casado em Vale de Ílhavo vários anos antes e lá constituiu família: teve a nossa mãe Rosa e a sua irmã Florinda. Em Vagos, o avô Constantino tinha as irmãs: Guilhermina e Teresa.
Portanto, e apesar da idade, tanto à data como 88 anos depois, lembro perfeitamente que não havia carros de aluguer em Vagos, havia simplesmente carros de cavalos que eram alugados às pessoas. Era o tempo de dois sacerdotes que muito admirei e faço por não esquecer: primeiramente o pároco Alyrio Gomes de Mello e de seguida o padre David de Pardilhó. Houve muitas mudanças desse tempo para cá: a estrada principal de Vagos, hoje em dia Nacional 109, era em terra batida, tendo sido mais tarde refeita em paralelos; a atual freguesia da Gafanha da Boa Hora pertencia à freguesia de Vagos e não possuía cemitério nem estrada: os finados vinham em ombros pelas dunas para serem sepultados no cemitério Vaguense.
Antes de haver táxis em Vagos, havia tipóias. A tipóia é uma “charriot” puxada a cavalos, que servia de transporte para quem a quisesse alugar. À data, exisitiam duas tipóias em Vagos, ambas da família do senhor António João Custódio Valente, cuja foto fará parte desta publicação. O referido senhor era avô de um outro João Valente que ainda hoje saúdo no café Ferradura. Este neto fez-me a gentileza de fornecer a foto do seu avô para este artigo. Grato por isso, coloco também uma fotografia dele. Ainda sobre este João Valente, vale a pena referir que ele era sobrinho e afilhado de outro homem com o mesmo nome.
Ainda que este tema fosse o que havia pensado para o artigo, haverá muito mais a relembrar: por exemplo, seguindo as tipóias, vieram os carros de aluguer. Estes tinham vários donos, dos quais nomeio os que conheci melhor: Sr. Vieira Resende da Quintã; Sr. João Galé e Sr. Ribeiro de Soza; Sr. Artur Trindade, Célio Leite e Sr. Eugénio Sarabando de Vagos. O parque era no largo da antiga Câmara Municipal de Vagos (Palacete Vale de Mouros que ruiu recentemente e está agora em obras).
Aproveito o espaço que sobra neste breve artigo para versar também sobre a época festiva do Natal e Ano Novo. Desejo desde já aos leitores do Eco de Vagos excelentes momentos próximos de quem lhes é mais querido. Lembro a todos, como já fiz em anos anteriores, que não é a época que traz a felicidade: passei Natais sozinho, passei Natais ao frio. No entanto, tendo uma conta sólida de décadas passadas, e por cada uma delas dez Natais, ressalvo que é importante, acima de tudo, o amor, que parece faltar no mundo de hoje.
Assim, faço voto para que não tomem por garantido esta época nem os seus valores, os tempos não estão para isso. Aqui despeço com votos de um excelente Natal e ótimas entradas.
João dos Santos Ferreira