NO CONCELHO

Só 45 pessoas no município requereram estatuto do cuidador informal

Números foram avançados pela Segurança Social, no seminário “A Memorizar”, onde se debateram questões relacionadas com a demência e o papel dos cuidadores

Numa era em que existe cada vez maior percentagem de população com demência – seja devido a Alzheimer ou a outras causas –, as doenças que causam a diminuição das capacidades cognitivas e comportamentais do ser humano estiveram em destaque, no dia 27 de novembro, no seminário “A Memorizar”, da responsabilidade da Santa Casa da Misericórdia de Vagos. Ao mesmo tempo, durante todo o dia, discutiu-se a importância do papel dos cuidadores informais, figuras que só recentemente foram reconhecidas pela lei portuguesa. Em Vagos, contudo, ainda só 45 pessoas requereram esse estatuto.
O Instituto da Segurança Social (ISS) distingue dois tipos de cuidadores: principal e não principal. Nenhum dos dois tem, obrigatoriamente, de ser familiar de quem está a ser cuidado. “O principal é aquela pessoa que presta cuidados a outra de forma permanente, vive em comunhão de habitação com a pessoa cuidada, não aufere rendimentos e não exerce atividade profissional remunerada”, explicou Norberto Nunes, chefe de equipa de prestações de solidariedade, do ISS de Aveiro, um dos oradores do seminário.
Por seu turno, o cuidador não principal é quem “cuida de forma regular, mas não permanente, e que pode viver, ou não, em comunhão com a pessoa cuidada”. Ainda assim, ao obter o cartão que lhe atribui o Estatuto do Cuidador Informal, pode, por exemplo, justificar ausências perante a entidade patronal, requerer teletrabalho ou um horário de trabalho compatível com a função de cuidador.
No distrito de Aveiro, de acordo com Paula Beleza, assistente social do ISS de Aveiro, existem já 1349 estatutos deferidos, 633 dos quais não principais. Santa Maria da Feira é o concelho com um maior número de deferimentos (318). Em Vagos, no entanto, há apenas 45 – 23 não principais e 22 principais. A técnica do Centro Distrital de Aveiro do ISS sublinhou, contudo, que uma grande fatia da população desconhece a existência do Estatuto do Cuidador Informal. “A lei é de 2019, mas, com a pandemia, acabou por só ser alargada a todo o território em 2022”, explicou.
Maioria são mulheres
No âmbito do Estatuto do Cuidador Informal, adiantou Norberto Nunes, no distrito de Aveiro foram atribuídos “629 subsídios, com rendimento médio de 353,51 euros”. E Paula Beleza destacou o perfil das pessoas que viram o estatuto – seja de cuidador principal ou não principal – deferido: “84% são do género feminino, a idade média é de 57 anos e a relação familiar, entre o cuidador e a pessoa cuidada, em primeiro lugar está quem cuida da mão ou do pai, seguido do filho e do cônjuge”.
Com o acompanhamento que é feito após o reconhecimento do papel de cuidador, nomeadamente com a atribuição de um profissional de saúde de referência, a Segurança Social define um plano com medidas que são necessárias para ajudar os cuidadores a diminuírem o seu cansaço. Atualmente, frisou a assistente social, os dados indicam que 37,5% das pessoas com o estatuto não sentem sobrecarga, 26,9% sofrem de sobrecarga ligeira e 35,6%, intensa.
No seminário debateu-se igualmente a importância de o país priorizar a demência e as suas consequências. Até porque, de acordo com Maria Amélia Ferreira, professora catedrática aposentada, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, “em 2050, as pessoas com demência vão representar 3,82% da população” – quando, em 2018, correspondiam a 1,88%.
Ainda de acordo com Maria Amélia Ferreira, em Portugal, há seis anos, havia 193 mil pessoas com demência. “Estima-se que em 2050 haja quase 350 mil. E está estudado que 45% dos casos de demência podiam ser evitados, através da abordagem de 14 fatores de risco, entre os quais o sedentarismo, dormir mal e comer mal”, referiu.
Jogo de tabuleiro
Foi a pensar no combate à progressão da demência que a Santa Casa da Misericórdia de Vagos (SCMV), através do “Memorizar”, desenvolveu o jogo “Vagos Jogá História”, financiado pelo Bairro Feliz, do Pingo Doce. “É um jogo para ser partilhado não só por pessoas com demência, mas com os seus cuidadores e familiares. A ideia aqui é haver uma estimulação cognitiva, motora e emocional”, deixou claro Filipa Domingues, psicóloga do projeto.
De forma resumida, realçou Filipa Domingues, “ao longo do percurso que vão fazendo no tabuleiro de jogo, os participantes vão a vários sítios do concelho e respondem a perguntas que remetem para a história e para atividades que são memórias de Vagos”. À medida que passam na casa de partida, recebem uma peça de puzzle. No final, “o ganho maior vai ser a partilha da elaboração do próprio puzzle, que é uma imagem do Santuário de Nossa Senhora de Vagos”.
Paulo Gravato, provedor da SCMV, entregou em mãos um exemplar do jogo de tabuleiro, no final do seminário “A Memorizar”, aos representantes de todas as IPSS do concelho.
S.F.

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