Este mês de outono, cheio de cores quentes, mês do sol de S. Martinho e das castanhas assadas, está quase a acabar para nos trazer os dias de geada e as visitas ao pinhal, para apanharmos o musgo, para o presépio de natal. Na nossa CAR o presépio já está montado e já começamos a decorar a casa com motivos natalícios. As meninas já estão a pensar nos seus pedidos ao pai natal e a dar pistas para as prendinhas surpresa que costumam aparecer na nossa casa. Parece cedo para esta azáfama, mas, na nossa casa, o natal não acontece no dia 25 como nas outras famílias. O dia mágico é sempre regulado pelo início das férias escolares para garantir que todas possam viver a festa de natal da CAR antes de, aproveitando as interrupções letivas, viver, ou testar viver, em família esta época tão aguardada. Fazemos um grande esforço e levamos essa noite para a rua. Vamos jantar a um restaurante, tão do agrado delas, desvendamos o amigo invisível e regressamos a casa para a caça às prendas, fechando a noite com muitos risos e gargalhadas. Confortadas com estes momentos felizes, apesar de serem poucas, elas estão prontas para partir para junto das famílias. Com as outras meninas que ficam, temos um plano de atividades que procuramos organizar usufruindo dos eventos natalícios que vão acontecendo à nossa volta e no dia 24 preparamos uma ceia familiar num ambiente de festa e chocolates. Este é um ciclo que se repete a cada ano que passa. Lamentavelmente sentimos a tristeza das meninas que ficam por não serem desejadas por ninguém, ou melhor, porque durante mês apôs mês, ano após ano, as suas famílias não tiveram força, apoio, energia ou vontade de mudar. É por estas engrenagens perras e mal oleadas que continuamos a existir e a fazer sentido a nossa casa estar aberta.
Casa de Acolhimento Residencial