EDITORIAL

Não digam que não há diferenças

EDITORIAL

Quando, num destes dias, vi que o Vagos Sport Clube tinha eleito Dalila Ferreira para ficar à frente da direção, durante os próximos dois anos, o meu primeiro pensamento foi “olha que bom, é uma mulher”. E este facto, tratar-se de uma mulher, não devia ser alvo de qualquer comentário ou pensamento – positivo ou negativo –, muito menos sendo eu própria também mulher. Mas ainda é objeto de espanto, porque ainda é necessário sê-lo. E escrevo isto dias depois de se ter sabido que existe um canal português na aplicação Telegram, onde 70 mil homens portugueses partilham imagens íntimas de mulheres, sem o consentimento das mesmas. Por isso, não me digam que já não há diferenças entre homens e mulheres. Há. Há muitas. E não é com felicidade ou orgulho que o digo.
Sim, já existem mulheres em cargos de chefia – algo que até há alguns anos seria quase uma miragem. Sim, já existem mulheres a liderar países e instituições mundiais. Sim, as mulheres podem chegar onde quiserem. Mas chegam lá com a mesma facilidade do que os homens? Não chegam.
Ser mulher ainda está longe de se igualar a ser homem. As estatísticas mostram-nos isso mesmo, ainda que muitos queiram acenar com bandeiras contrárias. Aponta-se o dedo ao feminismo, diz-se que já não é necessário e que se resume a uma tentativa de alegar a superioridade do sexo feminino. Nada mais errado, na verdade.
Vou ao dicionário Priberam e pesquiso “feminismo”. O significado da palavra diz-nos que se trata de um “movimento ideológico que preconiza a ampliação dos direitos civis e políticos da mulher ou a igualdade dos direitos dela aos do homem”. E di-lo bem.
O feminismo ainda é necessário. É imperativo, aliás. Enquanto houver mais mulheres do que homens em situação de desigualdade, enquanto as mulheres forem mais vulneráveis a atos bárbaros do que os homens, o feminismo faz sentido.
Num país onde 70 mil homens se juntam atrás da capa da internet para tratarem as mulheres como objetos, lutar pela dignidade do sexo feminino mantém-se na ordem do dia. E ainda é normal – mesmo que seja lamentável – ficarmos felizes por vermos mulheres a vencer. Como poderia não ser?

Salomé Filipe
Diretora do Jornal

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