OPINIÃO

Falando sobre quando comecei a escrever…

Cantinho de João Ferreira
Era quase uma criança! Mesmo antes de findar a escola, comecei a escrever aos onze anos, em letra semelhante à letra de máquina. Na altura escrevia à luz de candeeiro, à luz do dia, à luz do que fosse, e tendo escrito vários romances pela vida fora, o primeiro que destaco aqui é “Um Amor, Uma Saudade”. Este livro, foi passado à máquina de escrever por um colega que era soldado e a quem deixo memória: José Jesus de Sá, recordo a tua passagem quando ias de Soza para Vagos nesse terrível acidente de viação, que te viria a levar três dias mais tarde, já no hospital de Ílhavo. Quando te fui visitar, nem me deixaram chegar perto, devido à proximidade da tua morte.
Inspirado numa menina que acabaria por morrer tuberculosa, “Um Amor, Uma Saudade” era o livro que emprestava a leitoras nas casas onde trabalhava como pintor, e elas diziam todas assim: “- O livro é muito bonito! Mas a personagem principal não devia morrer!”, ao que eu retorquia: “- Vocês percebem pouco de romances: se percebessem veriam desde princípio que a rapariga ia morrer no fim. Porquê? Porque tendo tudo, era perfeita demais!”. À data, 1948, a tuberculose já tinha cura, mas em Portugal era escassa, assim a personagem estava fadada desde as primeiras páginas.
Na continuação desse primeiro livro, escrevi também “Afinal o dinheiro não é caminho para a felicidade”. Neste romance, havia várias personagens femininas e a história passava-se em Cascais: era uma história que tinha até uma senhora viúva com muitos admiradores, rica e com uma criada, para a qual brotaram estes versos: “Quando ela passa muito emperuada /Para o lado da cidadela / Com a criada muito esmerada / E a cadeirinha presa à trela / Essa gente embasbacada / Não aparta os olhos dela”.
Das mais histórias que escrevi ao longo da vida, destaco aqui os seguintes títulos: “A Legião dos Falhados”, este que apareceu no Eco de Vagos, por forma a preencher espaço e em três capítulos, um por mês. Mais tarde, quando já era dono do jornal publicava todos os meses, um excerto do romance “Um amor escrito nos astros”. Este, semi-autobiográfico, versava também alguns imaginários, sendo que o restante era a minha vida à época, verdadeira, ao invés de verosímil.
Também escrevi uma história passada em Vale de Ílhavo, local onde nasci em 1932. Por título “A Traição”, a história contava um casal cujo marido era regedor e tinha um amigo, esse amigo tinha uma irmã que se apaixonou pelo dito regedor. Acontece que, quando a irmã se lançava ao regedor, por forma a cumprirem a traição num bosque, um cão ladrou e, estando uns rapazes a guardar uma eira de milho, soltaram meia dúzia de tiros para o ar. Ela com medo, e julgando que era destino, largou o regedor e nunca mais o seduziu.
Tendo publicado já “A Redenção” e os “Retalhos da Comédia Humana”, com a ajuda que muito prezo, da Câmara Municipal de Vagos, tenho por intenção, ainda vir a publicar “Um amor escrito nos astros” (em livro), “Romances de Cascais e Lisboa”, “As três mulheres” e, para ponto final, a minha autobiografia, na qual ainda trabalho: “Quadros com salpicos de lágrimas”, isto se, os anos me ajudarem. Aproveito para referir, que na foto que ilustra o artigo, estou eu e o meu neto Tiago que muito me tem apoiado nestas publicações.
Ainda neste ponto de referência à minha proveta idade, defendo que podem esperar de mim artigos relacionados com a efeméride: o futuro quarto de século do jornal O Ponto daqui por dois anos e o centenário dos bombeiros daqui por quatro, etecetera. Assim me despeço com votos de uma longa vida com muita saúde, bem como boas leituras.

João dos Santos Ferreira

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