A XII Feira da Abóbora encheu o Largo de São Miguel, onde só no primeiro dia foram servidas mais de 500 sopas
Soza está registada como capital da abóbora e, nas palavras de Fátima Rito, chanceler-mor da Confraria Sabores da Abóbora, isso deve-se à qualidade e não à quantidade do que ali é produzido. E foi essa qualidade que esteve à prova, uma vez mais, na XII Feira da Abóbora, que decorreu, no Largo de São Miguel, no fim de semana de 20 a 22 de setembro. Entre as tradicionais papas, pão e broa de abóbora, houve lugar para experimentar novidades como arepas e brigadeiros, entre outras. Este ano, só não foi levada nenhuma abóbora gigante a concurso, como aconteceu na edição de 2023. Arrecadou o prémio de “a mais pesada” uma abóbora de 35 quilos.
Longe vão os tempos, há 12 anos, quando a na altura recém-formada confraria organizou uma pequena feira no adro da igreja, onde se venderam papas e algumas abóboras. Hoje, o Largo de São Miguel chega a ser pequeno para receber aquilo em que o evento se tornou. “Acho que nunca tivemos tanta gente no primeiro dia como este ano. No ano passado, devemos ter ultrapassado os cinco mil visitantes, pois tivemos sempre bem mais do que mil pessoas em cada um dos três dias”, conta Fátima Rito.
Os números são contados “a olho”, uma vez que o certame é de entrada gratuita. Mas a mancha humana tem crescido a olhos vistos. E o mesmo tem acontecido com os expositores interessados em estarem presentes. Desta vez, foram 31 – com a chanceler-mor a assegurar que “não há capacidade para receber mais” –, dos quais 25 eram de artesãos e seis de produtores de abóboras. “Claro que gostávamos sempre de mais, mas a verdade é que julgo que este é o tamanho ideal para as pessoas que temos na organização, que são cerca de 20”, adianta Fátima Rito.
Se o número de visitantes não é contado com pormenor, o mesmo acontece à quantidade de abóbora que se gasta nos três dias. Fátima Rito sabe que “é muita, foram quatro carradas, mas não sei quanto pesa cada carrada”. O certo é que toda a que chega à feira é transformada em papas – para as quais as pessoas fazem fila, muitas a quererem comprar para levar para casa –, pão e broa.
A gastronomia é, aliás, um dos principais chamarizes da Feira da Abóbora. “A nossa gastronomia é muito boa. E a nossa abóbora é mesmo muito boa”, assegura a chanceler-mor, sem esconder o orgulho. E os visitantes tiveram quatro associações vaguenses a servir iguarias: a Confraria Sabores da Abóbora, organizadora do evento com o apoio da Câmara de Vagos, a Pro.Boco, a Associação dos Amigos do Fontão e o Sosense.
O concurso de sopas, no primeiro dia de feira, contou com 25 sopas a concurso, confecionadas por restaurantes e por particulares. E voltou, como noutros anos, a ser um sucesso. Segundo Fátima Rito, foram vendidos 500 kits, compostos por tijela e colher. E, no final, o público votou na sua sopa favorita, todas com abóbora, obrigatoriamente, como um dos ingredientes. A Marisqueira da Vagueira ganhou o primeiro lugar, o restaurante Faina, também da Vagueira, arrecadou o segundo e um participante particular ficou com terceiro prémio.
Ao longo dos três dias, a Feira da Abóbora contou com várias atividades, entre concursos, atuações musicais, atividades desportivas e workshops. E a tarde do último dia foi marcada por um encontro de gaiteiros, que reuniu tocadores de vários pontos do país.
“Este ano não há delas gigantes”
Já habitual no certame é, também, o concurso da “abóbora mais pesada”, cujo primeiro lugar, no ano passado, foi arrecadado por uma abóbora de 392 quilos. Desta vez, contudo, não apareceu nenhum fruto com uma dimensão parecida. Uma abóbora produzida em Soza por António Luzio, com 35,200 gramas, foi a maior a concurso.
António Luzio não é novo nessas lides. Há dois anos, já se tinha sagrado vencedor, com um exemplar que chegava quase aos 50 quilos. No ano passado, com um concorrente “imbatível”, acabou por ficar em segundo. “Essas abóboras gigantes levam muito trato e técnica. As minhas são produzidas da forma tradicional, só levam estrume, adubo e água, mais nada”, conta o produtor, para quem a produção de abóboras “é apenas uma brincadeira”. “Faço-o para passar uma parte do tempo e as que produzo, por norma, são para a confraria, para a minha mulher fazer uns docinhos e para dar aos meus amigos”, explica.
Ainda assim, segundo António Luzio, “este ano foi um ano fraco e não houve abóboras gigantes, porque faltou água”. Um amigo seu, produtor de Albufeira, que ainda no ano passado ganhou um concurso, em Paredes, com uma abóbora de quase 600 quilos, confirmou-lho. “Diz que não teve nenhuma para concorrer. Esse meu amigo é que sabe a técnica para produzir essas abóboras gigantes, mas eu nunca quis aprender porque dá muito trabalho”, confessa António.
Ainda que os segredos não sejam todos conhecidos, sabe-se que produzir uma abóbora de dimensões incomuns carece de uma técnica específica que envolve, adianta António Luzio, “meter esferovite assim que ela nasce, entre a terra e a abóbora, para não estar assente na terra, e depois tem de se colocar umas cintas para ficar suspensa, tem de ser coberta e ainda leva uns químicos que eles [quem as produz] não contam bem quais são”. Este ano, não houve técnica que valesse a ninguém. “Foi a falta de água. A abóbora não quer muita água, mas quer alguma. Este ano, faltou isso”, assegura o sosense.
S.F.