ECO DA SANTA CASA

Sinais dos tempos em tudo o que vemos, ouvimos e lemos!

O poder de uma leitura e tantas podem ser …

Tem a Palavra a Mesa

É um sinal dos tempos receber um livro para crianças na passagem aos sessenta anos. É um sinal de viragem nas minhas funções, tarefas e ocupações. Enfim, um sinal das muitas sincronias…e assim, a felicidade do saber, como gosto tanto: sobretudo da reflexão que cada momento me proporciona.
Escrevo-vos do dia em que recebi esse ponto de ligação a uma realidade que há muito me vem ao espírito … já lá vamos!
Era uma manhã clara e esperava um transporte para outra dimensão: um pequeno livro em cada vida é a maior lição!
Recebi então este livro.
Um livro é sempre uma emoção – um tesouro, é sempre momento de evasão… Um livro para crianças, dirão. Mas só quem não ultrapassa a capa, poderá ter essa ideia “O gato que queria ter um nome ” de Fumiko Takeshita e Naoko Machida – Alma dos Livros.
“O livro que ganhou o Grande Prémio de Ilustração do Japão”; “Uma mensagem poderosa” (anuncia a Amazon) – os livreiros sabem como conquistar os leitores: com mensagens impelem a abertura imediata do livro… e assim foi!
Maravilhosa ilustração! Leitura rápida – muita leveza e brincadeiras com as palavras. Mas as intenções poderosas da mensagem estão quer nas ilustrações quer nas palavras. Estão todas bem marcadas e são mesmo inspiradoras. E daí ao segundo ímpeto – o que ainda mais surpreendeu – um quase “Eureka” de Arquimedes: É isto! tenho de o escrever…” e cá estamos, agora, para “conversar” a propósito.
Então, depois de ler, o que fica? É bom ter um nome. Mas, mais importante, é termos alguém que nos chame… Emudeci, olhos semicerrados, margeados, a viajar nas imagens que frequentemente me assaltam na realidade das cidades: humanos errantes a procurar quem os procure, quem os chame…
O autor brinca com gatos, cães, pessoas, flores… Parece leve e quase inconsequente. No entanto, a mensagem levou-me às pessoas que foram perdendo o “nome”, a identidade por ficarem no esquecimento … até de si próprias! Quantas pessoas, nas ruas, em hospitais, nos lares vão ficando sozinhas, esquecidas, abandonadas, renegadas pelas próprias famílias?
No livro, o Gato visitou os nomes de todos quantos com quem se cruzou – “… até as flores têm nome…” A história acaba bem – o gato encontrou quem lhe desse um nome.
Na realidade, no nosso dia-a-dia, temos um nome, mas, se ninguém chama… Nas ruas das cidades, nos trabalhos, cruzamo-nos com pessoas e não há uma saudação: é a indiferença que reina.
As pessoas tiveram o nome que foram esquecendo, desvanecendo ao longo dos tempos na sua própria memória … As pessoas e seus nomes vão ficando sem memória por não terem quem neles acredite, por falta de familiares que os estimulem que os provoquem, que lhes peçam que façam isto ou aquilo… Até, … quem os sepulte!!
Nenhuma vida, por mais singela, merece ser desmerecida. As relações intergeracionais devem ser sedimentadas, engrandecidas. Na grande cidade, o gato sem nome foi afugentado, foi apelidado “vadio”- sentiu-se ostracizado… – a nossa vida na imagem do espelho.
Quando ganhou o nome “Ervilha” – da cor dos seus olhos… percebeu que não era fundamental o nome, mas sim ter quem o chamasse, quem dele cuidasse. Essa é a mensagem maior: este Gato é apenas a metáfora da nossa vida nas grandes cidades…
Até quando a humanidade poderá continuar a progredir na desumanidade? Será isso realmente progressão? Daí a urgência de ideias que me invadiram no fluir desta leitura. Nunca desvalorizar quem anda errante – um dia, algo semelhante pode acontecer-nos!
Há sempre uma palavra possível: um simples “bom-dia”, um sorriso. Qual o risco? Ganhamos um sorriso de volta! Não ganhamos? Não há problema – já ganhamos o nosso próprio sorriso e os seus benéficos efeitos!
Um olhar, um gesto, uma atenção. Só assim poderemos ser Humanos maiores, muito diferentes dos demais animais, ditos irracionais. E, nem assim, os desprezemos: nos animais, mais novos e mais velhos são sempre protegidos!
É essa a sua maior lição. Entre nós, humanos racionais devemos conscientizar – cada idade tem saberes, experiências vividas; ignorar alguém é perder oportunidades. Só no efetivo contacto por mais ténue, breve ou passageiro, poderemos acrescentar mais e mais. Valorizar o outro é o passo para podermos acrescentar vida e experiência às nossas vidas. O ignorar nada nem ninguém engrandece: muito pior: tudo se perde…
E nunca ignorem: todos nós seremos assim também um dia, vítimas da nossa própria indiferença – com o tempo, as atitudes que desvalorizamos no dia a dia, trazem fenómenos que tanto nos surpreendem e não pelos melhores motivos – o fenómeno a saúde mental nas diferentes faixas etárias, vai-nos pondo a pensar “O que temos andado a perder?” “Onde perdemos o contacto com a nossa verdadeira essência, o HUMANISMO? A verdadeira significação da palavra HUMANIDADE … Que bonito livro… tantos pensamentos inspiradores me proporcionou.
Depois, ao lê-lo aos meus amiguinhos – para passar a mensagem! Por ser de pequenino que …se passam as mensagens essenciais! E é tão fácil com ilustrações fabulosas que cativam todos, em qualquer idade …
Gratidão, só gratidão por esta oportunidade de superação!!
Boas férias e boas leituras!
Céu Matos, Mesária

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