NO CONCELHO

Irmandade do Senhor dos Passos celebra 330 anos e procura sangue novo

Bispo António Moiteiro presidiu à cerimónia de aniversário e lançou repto para que a associação tente aproximar-se das novas gerações

Os primeiros estatutos, enquanto associação, datam de 1694. E, desde aí, a atividade manteve-se ininterrupta até aos dias de hoje. A Irmandade do Senhor dos Passos celebra, este ano, o 330º aniversário. Na penúltima sexta-feira de julho, António Moiteiro, bispo de Aveiro, presidiu a uma eucaristia comemorativa, na Igreja da Misericórdia, pertença da irmandade. E lançou o repto: é necessário chegar às camadas mais jovens da população, para garantir a continuidade da associação.
A história da Irmandade do Senhor dos Passos remonta ao século XVII. “Conhece-se muita coisa porque o padre Carvalhais, há alguns anos, fez uma recolha muito grande de elementos e publicou um livro em que dedica dois capítulos à Irmandade”, explica ao Eco de Vagos Jorge Luís Oliveira, presidente da Assembleia Geral da Irmandade do Senhor dos Passos.
“Nesta zona onde hoje é a Igreja, havia um hospital que acolhia também soldados, pobres, doentes e velhos, entre outros. E uma Confraria das Almas, que era quem geria esse hospital e que, uns anos antes da formação da Irmandade, construiu aqui uma capela em honra da Nossa Senhora da Misericórdia”, conta Jorge Luís. Não se sabe ao certo quem, depois, em 1694, fundou a Irmandade do Senhor dos Passos, mas supõe-se que tenham sido pessoas ligadas à confraria. “Nasceu com a finalidade de fazer o culto do Senhor dos Passos e de manter o culto à Nossa Senhora da Misericórdia, continuando a cuidar dos pobres e dos desvalidos. E não parou até ao dia de hoje, nem vai parar connosco. Ainda que, atualmente, desde os penúltimos estatutos, se dedique apenas à parte espiritual”, esclarece o presidente da Assembleia Geral.
Abertura às mulheres
Atualmente, a associação é composta por 170 irmãos, que pagam anualmente uma quota de 10 euros. Desses, cerca de 60 são mulheres. “Os estatutos de 1913 [houve várias alterações aos estatutos ao longo dos 330 anos] impedem as mulheres de participar. Mas os atuais, que datam de 1992, são omissos. Por isso, talvez há meia dúzia de anos, abriu-se a irmandade oficialmente às irmãs”, adianta António Bodas, juiz da Irmandade do Senhor dos Passos.
Agora, falta outra etapa que preocupa a atual comissão que lidera a irmandade: captar jovens. “O pessoal antigo era muito devoto e ferrenho, o que não acontece com o mais novo. Recentemente, tivemos dois novos sócios, na casa dos 40 anos. Mas não chega para fazer face aos irmãos que vão morrendo. Não é fácil chegar às pessoas mais novas”, diz o juiz. E Jorge Luís partilha da preocupação, mas assume que a associação pode fazer mais nesse sentido: “Temos de começar a pensar em iniciativas que atraiam os jovens e de os recrutar, provavelmente, no seio dos grupos de jovens. No âmbito das comemorações dos 330 anos, se calhar podemos fazer alguma coisa. Caso contrário, daqui a uns anos isto acaba”.
Lançamento de livro
Para as comemorações do 330º aniversário, a irmandade tem previsto o lançamento de um livro sobre a sua história – replicando algum do material que havia sido recolhido pelo padre Carvalhais. Além disso, no próximo ano, celebram-se os 140 anos da Igreja da Misericórdia, infraestrutura que a associação gere sozinha – pontualmente com o apoio da Câmara, como aconteceu há 20 anos, aquando da sua requalificação.
“Também lançámos um novo repto aos autarcas, porque temos a ambição de recuperar cinco telas seiscentistas, do século XVII, que estão completamente degradadas. Para isso, precisamos de apoio”, garante Jorge Luís Oliveira.
António Bodas confirma que os financiamentos são necessários. Até porque a associação vive das quotas dos sócios e dos funerais, uma vez que a sua igreja faz as vezes de casa mortuária na vila de Vagos. Quando morrem, apenas os irmãos não pagam a “estadia”. À restante população, são cobrados 65 euros.
“É com esse dinheiro que vamos gerindo tudo, sendo que a procissão anual do Senhor dos Passos envolve custos avultados, com as flores, o pagamento à GNR e à Banda Vaguense. Felizmente, recentemente a Câmara atribuiu-nos um apoio para fazermos um pálio, um estandarte e uma bandeira. Não há quem consiga aguentar isto, se não houver dinheiro”, conclui António Bodas. Ele que está no segundo ano de mandato e que zela pela igreja sempre que há funerais, com uma devoção de quem é “irmão” há mais de 30 anos.

S.F.

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