Opinião
Sempre achei curioso que os nossos amados políticos quando questionados sobre como melhor agir de modo a combater as alterações climáticas, os ilustres vendem-nos como medidas mais importantes votar no seu partido por ser o que está mais comprometido com o clima e voar menos (promessa feita para enganar o “zé povinho”). A alteração do clima não é a única emergência dos nossos dias, mas isso não a torna menos grave. O caminho que nos trouxe até aqui importa (e muito!), mas, face à urgência, prefiro começar pela minha “promessa “ com o que podemos fazer agora. Quando me questiono sobre como melhor agir de modo a combater as alterações climáticas, defendo que devemos votar em partidos mais verdes.
No que diz respeito a políticas públicas em linha com a transição energética, eu entendo que devemos ter em conta que, em muitos casos, é difícil reduzir as emissões: as pessoas precisam de comer e de se deslocar; é preciso construir e renovar as casas. Tudo isto emite gases com efeito estufa. No entanto, é importante estar ciente como eu, de que quem se encontra no segmento dos 10% da população com maior riqueza (a nível mundial) lança para a atmosfera, em média, 50 vezes mais carbono que alguém na metade mais pobre. Assim, quando confrontados com a necessidade de reduzir emissões, o foco deve estar nas atividades que poluem muito e acrescentam pouco. A aviação é um desses casos: Como exemplo, em 2018, mais de 85% da população não voou de todo e o 1% que voou mais foi responsável por metade dessas emissões.
Atualmente, a aviação não paga Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ao contrário do que acontece com os carros…) e a grande maioria dos bilhetes de avião não paga IVA: estão isentos os bilhetes para e do estrangeiro . E, cereja no topo do bolo, as viagens aéreas dentro de Portugal continental beneficiam do regime de IVA reduzido: 6%. É uma situação irresponsável, como permitir o uso de jatos privados que são muito mais danosos que os comerciais. Este paradigma tem que se alterar nas urnas (e na rua). Ao mesmo tempo que prometem lutar pela implementação de políticas que promovam uma transição energética rápida e justa, podemos avançar num aspeto em que só dependemos de nós mesmos: voar menos. Segundo os cálculos da ONG alemã Atmosfair, para limitar o aquecimento global a 1.5 graus, a pessoa média deve limitar as suas emissões a tonelada e meia de CO2 anualmente .CO2 é uma medida que expressa a quantidade de gases de efeito estufa em termos equivalentes da quantidade de dióxido de carbono. Segundo as estimativas da ONG Atmosfair, um voo de ida entre Ponta Delgada e Lisboa emite 241 kg CO2e — ou seja: um voo de ida e volta ao continente contabiliza mais de 30% do orçamento carbónico anual! É certo que existem muitas e boas razões para voar, especialmente quando se vive num arquipélago a mais de 1000 km do continente. No entanto, cada passagem aérea deve ser alvo de ponderação. Por cada ida e volta evitada (para um voo de 2h), são quase 500 kg de CO2 a menos. Se, por um lado, é verdade que os meios para uma transição para a sustentabilidade não se esgotam na ação individual, também é verdade que há muito a fazer no que toca às passagens que compramos. Pelo menos para quem, como eu, quase não voa por ano.
Podemos “voar “ cá dentro.
Voltarei…

Joaquim Plácido

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