OPINIÃO

Como Vagos mudou de há 88 anos para cá

Cantinho de João Ferreira

Começarei por explicar que vim para Vagos com a minha mãe Rosa Ferreira, o meu avô Constantino Franco Jesus, e o meu irmão Manuel Armando, tinha eu 4 anos. Passado meio ano, tinha eu já 4 anos e seis meses, a minha mãe, com um pau, partiu o braço a uma mulher que a insultou. Foi logo presa mesmo sem julgamento, no edifício, hoje da G.N.R. mas que à data era a prisão para mulheres. Para a prisão, levou também o meu irmão de dois anos, porque tinha de cuidar dele.
Passo a falar nos edifícios que rodeavam a prisão feminina: um deles, mesmo ao lado direito da atual G.N.R., data ao tempo da monarquia, tendo mais de 100 anos; do lado esquerdo, a seguir ao beco, onde hoje está o café “Ponto de Encontro”, estava a alfaiataria do senhor João Baptista Ribeiro, conhecido por São Martinho e por ser Maestro da Banda Vaguense em várias ocasiões. Continuando a Praça da República, na esquina ao lado do “Ponto de Encontro” habitava a família Bingre, que lá laborava um restaurante e fazia também pão e comida para fora. A casa do Doutor Almeida Ribeiro vinha logo a seguir, na lateral e até à esquina do passeio da estrada, onde hoje é a Caixa Geral de Depósitos. O Doutor Almeida Ribeiro, já falecido, era uma figura bem conhecida no país e à data, por ter um trabalho de relevo ligado à justiça do país.
A nacional 109 sofreu também alterações: nesse tempo era de terra-batida, hoje em dia é já alcatroada depois de passar por uma fase em que era paralelepípedos. Logo a seguir à casa do Doutor Almeida Ribeiro, era a do Notário, Doutor António Lúcio Vidal, nome dado até a uma estrada vaguense em direção a Soza. Esta casa de notariado viria a dar lugar ao Centro de Educação e Recreio. Passado o edifício que viria a ser o CER, seguia-se a loja de ferragens do Sr. Humberto Neves, mais tarde herdado pelo filho Humberto Neves Júnior, e que hoje em dia já não existe.
Do outro lado da estrada, encontrava-se algo que decerto ninguém recordará: o café inicialmente denominado “Progresso”; mais tarde, e com nova gerência, passaria a ser conhecido como “Hera” e, mais tarde ainda, como “Lisboa”. De volta ao lado de cá da estrada, A seguir ao “Ferradura”, existe hoje o que à data foi o café do Sr. Artur Trindade e, a seguir a esse espaço, existe a Casa dos Vidais, doada à Confraria das Sainhas. A casa que se segue, e cuja porta faz alegoria ao artigo, é pertença do meu cunhado, e tinha, no interior à época, uma escada a pique que culminava numa sala da legião portuguesa. Não se falará neste artigo dos legionários, uma vez que ao que sei, já morreram todos. Na seguinte porta está a barbearia do Sr. Bruno e assim acaba a rua.
Do outro lado da rua padre Vicente Maria da Rocha o banco que hoje é o BPI, começou como banco Fonsecas & Burnay mas o café do Sr. Artur trindade acabou por lhe tomar o lugar, deixando o espaço anterior para o que ainda hoje conhecemos como papelaria Oliveira, já em segunda gerência.
Tendo feito um breve apanhado da Praça da República e parte da N 109, deixo nota que o mesmo exercício poderia ser feito para todo Vagos. No entanto, cabe-me agora despedir e desejar as maiores felicidades aos jovens desta terra, bem como saudar os da minha idade e mais velhos que ainda estão vivos. Um bem-haja amigos!

João dos Santos Ferreira

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