EDITORIAL

Somos profissionais a embandeirar em arco

Editorial

Se há coisas em que somos especialistas, neste país, é em criticar tudo e todos. Em cada um de nós existe um governante, um médico, um advogado ou um jornalista. Diz-se que o país é mau nisto e que é mau naquilo. E nem falemos em futebol, porque aí há um treinador dentro de cada português e as opções de que quem efetivamente treina as equipas são sempre mal tomadas. Mas há uma exceção para tudo isto: a presença da seleção portuguesa de futebol em competições europeias ou mundiais. Aí, meus caros amigos, aí, a quem está de fora, vendemos a fruta ao melhor preço. Somos os melhores, temos hipóteses de ganhar, somos a melhor equipa, é tudo uma maravilha. Ou seja: para embandeirar em arco, estamos cá nós.
Escusado será dizer que esta conversa vem por estarmos em pleno Euro 2024, desta feita a acontecer na Alemanha. Ainda que, depois, nos programas televisivos com espaço de comentário, os problemas da seleção nacional sejam debatidos, a imagem geral que se tenta passar sempre antes do início da competição é “somos os preferidos, vamos ganhar”.
Eu não percebo muito de bola, é certo. Sei o mínimo, sei os nomes dos jogadores, tenho os meus favoritos e pouco mais. E sei que sim, que parece que temos uma boa seleção. Vi o primeiro jogo e, sim senhor, mostrámos superioridade. Mas a ideia que foi sendo passada antes do início da competição foi sempre, arrisco-me a dizer, demasiado efabulada. E já se sabe que quanto maior o voo, maior o tombo.
Obviamente, todos queremos repetir o feito de 2016, em que vingámos a honra do futebol português frente a uma temida França. Houve festa nas ruas, sorrisos nos lábios, abraços e até choro. Foi bonito. Por mim, repetia-se já amanhã. Mas um bocadinho de humildade não nos fazia mal nenhum.
Posto isto, sou das que partilha da opinião de que somos sempre (aparentemente) mais felizes quando a seleção está a na corrida por um título. É que não se trata só de futebol. Trata-se dos convívios com amigos e família, da cerveja e dos petiscos, da emoção do hino no final da partida e dos inevitáveis nervos. Ah, os nervos! Dizem em jeito de brincadeira que sofrer faz parte disto de ser português. Mas não era preciso ser tanto, pois não?

Salomé Filipe
Diretora do Jornal

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