NO CONCELHO

ROTEIRO DE UM DIA

Verão rural em Vagos

Entrar no carro, às primeiras horas da manhã, com roupa e calçado confortáveis, para passar um dia de verão em meio rural, junto à natureza. Levar marmita para um piquenique. E digitar no GPS: Aldeia do Boco. Fica, em Soza, Vagos, os da terra conhecerão, mas, se calhar, outros que são de concelhos limítrofes nunca ouviram falar. O percurso, desde o momento em que se está no centro da vila de Vagos, é rápido e simples. Não chega a 10 minutos, quase na totalidade por boas estradas.
A chegada é anunciada logo no início da aldeia: Boco – Aldeia de Portugal. Aparentemente, uma aldeia como muitas outras. Mas, na realidade, um lugar com um espírito diferente. É preciso embrenharmo-nos no Boco para conhecer o que a aldeia tem de distinto, ainda que percorrer a estrada principal nos faça logo perceber que as casas gandaresas – algumas habitadas ainda pelos seus proprietários, outras transformadas em alojamentos locais – são um seus dos ex-libris.
A Capela do Boco, que data de 1723, surge-nos do lado direito. E é logo a seguir, também à direita, que se inicia o caminho que nos leva a grande parte das azenhas que se situam no Boco. É aconselhável deixar por aí o carro e partir, a pé, em busca do que a aldeia tem para oferecer. É que o Boco está integrado em Rede Ecológica Natural, Zona de Proteção Especial e Sítio de Importância Comunitária. Tem três levadas – a do Barreto, a dos Moleiros (ou do Meio) e a do Sul –, que outrora serviam de força motriz para as azenhas. Hoje, contam-se 14 azenhas e três moinhos de água. Quase todas estão em mau estado de conservação ou mesmo em ruínas. Menos duas, que é possível visitar ali mesmo.
Quando se começa a descer a rua ao lado da capela, a rotina do quotidiano começa a ficar para trás. O som dos carros, que na Aldeia do Boco já é pouco, torna-se quase inexistente e é substituído, instantaneamente, pelos sons da natureza. E pelo cheiro das árvores, mais intenso à medida que se desce. Logo no início da estrada – em terra batida – encontra-se a Azenha Barreto, que pode ser visitada mediante marcação. A seguir, as placas identificativas vão-nos guiando. Azenha Ti Luísa – uma das que está em funcionamento e que tem uma casa de moleiros adjacente, que é possível conhecer por dentro, bastando marcar previamente –, Azenha dos Carvalho. Dali, é possível calcorrear a zona verdejante e passar uma boa parte da manhã a refrescar-se junto às levadas e às nascentes, fazendo uma parte do “Trilho das Levadas do Boco”. Basta vontade de caminhar e de comungar com a natureza.

Almoçar junto ao moinho
De novo no carro, quem não conhecer os caminhos das redondezas basta colocar no GPS (de novo, sempre útil): Parque da Lagoa de Calvão. São 10 minutos de carro desde o Boco e é um dos sítios acolhedores e tranquilizantes que o concelho de Vagos tem para oferecer. Ideal para almoçar o que se levou de casa, debaixo de sombra. Tem dois parques de merendas bem cuidados, com vista para a lagoa, cuja fonte central emite um som relaxante.

Na lagoa, é possível passar – à vontade – duas ou três horas a relaxar. Há espaço para as crianças brincarem, um percurso à volta da água, um jardim amplo, parque infantil e, até, um recanto com um baloiço de madeira, em formato de banco corrido, que convida à leitura serena de um livro. E tem outra particularidade: a companhia constante das dezenas de patos bravos da lagoa, que por ali grasnam e se pavoneiam. Ah, e outra, que não pode deixar de ser referida: o Moinho do Ti Pascoal, pitoresco, bem conservado, a transformar a paisagem numa cena de outros tempos.


Para quem ainda tiver coragem, o fim da tarde pode ser altura para calçar de novo as sapatilhas e rumar a um novo percurso pedestre. Há duas hipóteses: dirigir o carro junto até um dos locais perto do braço da ria de Aveiro que atravessa o concelho e, a partir daí, fazer algumas zonas a pé e observar as aves no seu habitat; para os mais corajosos, o automóvel deve levá-los a Fonte de Angeão, para percorrer o percurso pedestre – ou parte dele – do “Trilho da Lontra”. Trata-se de um circuito circular, com nível de dificuldade “fácil”, que pode ser feito tranquilamente, em família, em duas horas. Ainda que o percurso feito por estrada possa ser menos interessante para a vista, as zonas com lagoas por onde o trilho passa fazem valer a pena.
Perto da hora de jantar, é tempo de voltar a casa. Pernas cansadas, certamente, mas alma mais apaziguada. No entanto, também é sempre uma boa ideia parar num dos restaurantes da vila de Vagos e degustar um bom prato de comida típica.
S.F.

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