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Os melhores dias do ano

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Vagos viveu, por estes dias, as Festas do Município, evento no qual já é costume a autarquia investir largos milhares de euros, oferecendo à população “festa rija”. E lá que costuma ser “rija”, costuma. Mas a verdade é que, arrisco-me a dizer, toda a gente que gosta do local onde vive – e que o vive a sério, sentindo-o – não tem dias tão felizes no ano quanto os das festas locais.
Ainda que o cariz religioso esteja quase sempre relacionado com as festas dos municípios – e nisso Vagos não é exceção –, as celebrações são sempre revestidas de várias iniciativas mais profanas do que sagradas, o que faz com que mesmo quem não é religioso se reveja nos festejos. Em Vagos, há tasquinhas, há distinções de mérito, há muita música – tanto para o público mais velho, como para o mais jovem –, há teatro e muito mais. Tudo o que nem sempre existe ao longo do resto do ano, não falta em abundância naqueles cinco dias. Mas, ainda assim, o que me parece mesmo mais importante é que, ao longo desse período, há – houve, neste caso, porque já passou – locais de encontro. E eu acho que é isso que faz as festas de cada município tão especiais.
Perdidos na correria do quotidiano, entre o trabalho e a gestão da casa e da família, as pessoas pouco procuram locais onde se possam encontrar com os outros – encontrar a sério, uma vez que cruzarmo-nos com alguém no supermercado não conta como tal. Além disso, as localidades também têm, elas próprias, cada vez menos locais de encontro. Não há grandes culpados para esses locais terem desaparecido, talvez tenha sido apenas o desenvolvimento da sociedade que foi por outros caminhos, mas a realidade é que desapareceram. E o facto de as pessoas estarem, cada vez mais, viradas para si mesmas, assim como para os seus círculos mais restritos, talvez não tenha ajudado a que as coisas se desenrolassem de outra forma.
Nas festas das vilas, das aldeias e até das cidades, proporcionam-se locais de encontro. Vê-se, muitas vezes, quem não se via há um ano. Pergunta-se pela família de quem já havíamos perdido de vista, troca-se dois dedos de conversa com os amigos de infância, bebe-se um copo com um vizinho com quem nos cruzamos. Nas festas, abrimo-nos mais para os outros. E sorrimos mais. É inevitável não sorrirmos mais quando nos encontramos com os outros.

Salomé Filipe

Diretora do Jornal

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