ECO DA SANTA CASA

Liberdade dos Cuidadores

Que liberdade temos nós?

Soa injusto, em relação ao doente, dizermos que estamos numa prisão, mas na verdade é.
Quando o meu pai precisou de cuidados eu precisei de responder, em diálogo com a restante família, mas obrigatoriamente tivemos de dar resposta. Ou abandonávamos a pessoa? Não me parece que haja escolha… As respostas que existem são um padrão e não há idosos, nem famílias iguais, assim como a mesma doença progride de maneira diferente de pessoa para pessoa. Além disso, quando as respostas sociais se ajustam ao caso, muitas vezes nós não temos condições económicas para poder recorrer a esses serviços.
Não há liberdade! Ou há?! É que posso falar também na outra face da moeda, porque se por um lado o Cuidador não tem liberdade, por outro, ela acontece em pleno, no ato de cuidar…
A verdade é que ao aceitarmos viver este novo propósito de vida, cuidar de alguém, estamos a abrir liberdade para preencher de amor e proporcionar qualidade ao nosso familiar, muitas vezes, no final da sua vida… temos muitas dúvidas do que fazemos, mas damos o nosso melhor confecionando a comida preferida várias vezes, mantendo hábitos religiosos que sabemos significativos para a pessoa, conversando dos assuntos preferidos ou mesmo proporcionando momentos de silêncio, consoante quem temos, porque os conhecemos bem, conhecemos a sua história e estamos perto a descobrir novos gostos e frustrações.
É a esta liberdade que nos agarramos. É esta liberdade que nos acalma um pouco. É esta liberdade que nos faz ver um sorriso, ouvir umas palavras carinhosas dadas ao jeito deles, sentir que estão tranquilos… e nos faz continuar prazerosamente a ser CUIDADORES.


Reflexão de cuidadora do Projeto Memorizar

Sugestões de notícias