ECO DA SANTA CASA

Quero desabafar… Já posso?

Couple with smartphones in their bed. Mobile phone addiction.

Já passaram os Reis e a semana dos afetos também…. Vem aí o dia do pai

Tem a Palavra a Mesa

Agora que a época dos votos, dos desejos de concretizações e dos projetos respetivos vai esfriando com o gélido frio que nos chega dos ínfimos recantos da Europa (e, nem assim, a guerra acaba!) … dizia eu, agora que passaram os Reis, as festas dos afetos e os namorados, já não há esperança que me valha… O cérebro começou a inventar forças de se distrair com jogos de palavras, a pedir novas ideias, novos desafios… Hoje, foi assim o despertar das luzes, no acordar do sol – de que vale perdurar sem arrojo…
Quem se arroga sem rogo, acaba na arrogância abjeta… A arrogância que é proporcionalmente equivalente, à falta de humildade. Ora, juntando a tudo isto, a ignorância, a falta de curiosidade e correspondente inércia intelectual, temos os novos sábios do momento que se permitem leis de cancelamento de factos que só podem ser julgados, questionados, mas nunca apagados, riscados, reescritos da história secular da humanidade, apenas para proteção dos mais novos e das suas novíssimas teorias?

Ou voltámos ao tempo da inquisição ou ao lápis azul, da outra senhora?
Tantas vezes já ouvi dizer que a forma mais rápida de reproduzirmos erros do passado é não lhes dedicarmos o tempo necessário de estudo, de crítica, de reflexão… É a nova forma de não traumatizar os diferentes públicos e suas sensibilidades, seja na história, no cinema, na literatura. Cortam-se as sequências que não respeitaram tal ou tal suscetibilidade; riscam-se as páginas de tal ou tal obra, por poder ser traumática para os novos leitores. A última, e mais grave ainda, não vamos ler livros ou ver filmes sobre bullying, para não nos tornarmos mais violentos? Como se desenvolve o espírito crítico e a sensibilidade a determinados temas, sem haver momentos de reflexão, de análise que a leitura proporciona?
Aonde vai a humanidade nesse fechar em redoma dos nossos jovens? Que preparação para o mundo real estamos a permitir às novas gerações? Não são submetidos aos vírus para serem menos afetados (metafórica, mas também literalmente, com os negacionistas da vacinação, por exemplo…) E é assim que ficarão mais protegidos? Qual a real fortaleza desta geração, quando for exposta ao confronto com a crueza… pior, à crueldade que singra no mundo real, competitivo e norteado pela falta de valores? Fortaleza baseada na impreparação?

Junte-se agora o fenomenal domínio das tecnologias e da IA… Ai! Aí é que vai ser a doer… a geração do saber entregue em “pacotinhos” – é só… copiar e colar. É mesmo artificial esta inteligência!
Já vamos sabendo de estudos sobre alguns dos constrangimentos graves à memória, advindos da exposição aos ecrãs, em todas as idades e, particularmente, nas idades mais “tenras”… Qual será o impacto em definhamento do desenvolvimento do cérebro com esta consciência de que sabemos tudo, à distância de um clique? Quantas sinapses ficarão por se formar, por falta de desafios ao nosso cérebro? Que mundo queremos nós para as nossas crianças? Que cuidadores da nossa velhice estaremos nós a criar? Sim, porque serão estes seres que, por ora protegemos até aos limites da demência, vão assumir os cuidados, quando a nossa própria autonomia falhar … Não é melhor começarem já a criar robôs delicados nos modos, mas fortes para nos ajudarem nas nossas debilidades.

A humanidade está votada à degenerescência a prazo. Dá arrepios, pensar a impreparação emocional, por falta de profundidade nas relações interpessoais daqueles que serão a próxima geração – a massa trabalhadora, decisora…
Digam-me se só eu reparei: pais, de TLM em punho, no jardim a “vigiarem” os filhos que brincam sozinhos; crianças no restaurante ou nos carrinhos das compras, com tablets ou TLM a servirem de baby-sitters; mães a amamentarem de TLM em punho, deslizando imagens, em vez de comunicar com o bebé! Apenas três de variadíssimos exemplos que poderia nomear, mas não me apetece – é demasiado fastidioso e mesmo repugnante.
Se não recuperarmos as nossas vivências interpessoais, o futuro da nossa humanidade poderá ser tudo, mas não poderemos apelidarmo-nos de HUMANOS … O TLM já é uma extensão do nosso braço, mas passaremos a ser apenas um periférico da máquina – a tal IA …
Desculpem esta minha acidez…
Cuidemo-nos, por favor, para bem da nossa saúde física e mental.

Maria Céu Matos
Mesária

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