OPINIÃO

A bolha tóxica dos “comentaristas” de debates

Opinião
Tenho visto todos os debates entre líderes partidários nas diversas TV’s. Concordo com o modelo de 30 minutos, que me parece bem, para obrigar os “vendedores” de promessas a serem curtos e sintéticos nas suas propostas. Depois perco mais algum tempo a ouvir os “comentaristas/encarregados da nota” com as suas descrições arrasadoras sobre a derrota ou a vitória dos candidatos em jogo.
Os jogadores pouco ou nada falam dos seus programas. Alguns ainda não os apresentaram para nos ajudar a ver as suas propostas orçamentais e os desafios para a Educação, Saúde, Ambiente, etc. Os debates entre líderes partidários são essenciais, em democracia, para a formação do voto esclarecido e para o crescimento político da sociedade como um todo. Muito mais do que as habituais arruadas, abraços e beijinhos nos mercados e jantares com de carne assada. Nestes debates cada eleitor pode confirmar a sua opção ou construí-la.
Duas notas prévias: a primeira prende-se com o tempo de cada debate. Os portugueses são, por natureza, prolixos. Uma ideia demora sempre mais tempo do que o necessário para passar. Ora, as televisões não têm culpa que os líderes partidários ainda não consigam a simplicidade da mensagem, que se envolvam em ideias complexas para cada resposta ou contraditório e esta tem sido a realidade até agora. Em 30 minutos pode-se dizer muito e os políticos vão ter de mudar o seu estilo para cumprirem as exigências da velocidade do mundo de hoje. Se assim fizerem também reduzem a probabilidade de erro, de frases ao lado que possam ser virais. Será ainda muito relevante que as expressões, as formas de estar, a elaboração da imagem e as frases curtas usadas nos debates em menos de 15 segundos, sejam elementos valiosos, teasers e ideias que se passam nas redes sociais, que se transformam em likes, que se apresentam no TikTok (área preferida de André Ventura), instrumento que ganha os jovens e os ressabiados a cada dia que passa. Os partidos e os políticos tradicionais ainda têm medo deste novo e encantador universo.
A segunda é a do debate depois do debate. Os canais de informação precisam dos debates para criarem notícias de influência partidárias, para além deles. Essas conversas, entre “Chuladores da política” e ilustres (estou a exagerar) jornalistas, têm sempre, o seu lado subversivo, até cínico, um alvo secreto a abater. E é desse alvo que quero falar. Nestas eleições é o neto do sapateiro com as suas feridas de oito de governo, quem está na mira. Poderá ganhar todos os debates por goleada, mas nunca ganhará nenhum para os grupos de comentadores/opinionistas que se foram construindo no digital.
O neto do sapateiro está a pagar pelo menos três avenças, do passado político e da diferença:
1- O PS está há oito anos no poder e já mostrou o que vale, o seu pessoal político não tem novidade e as ideias novas não aparecem;
2- Foi o“box to box” da Geringonça e ministro de uma maioria absoluta, sendo, à partida, o responsável por tudo o que, de mau, está a acontecer;
3- O homem trata os comentadores por tu, dá-lhes mais importância do que a que têm, e, como todos sabemos, a facilidade do trato é também a facilidade do ataque e da menorização. Num país onde todos gostam do “senhor Doutor” como trato, o neto do sapateiro é mal-educado e malformado. Eu gosto desta forma de se comunicar com os outros, quando os nossos pais nos registaram deram-nos um nome, não um título. E é este o lado em que a política se torna parecida ao futebol. Afinal todos somos do Benfica, do Sporting ou do Porto, mesmo que não tenhamos clube. E quando comentamos o jogo não deixamos de aduzir os sonhos e interesses secretos de hooligans.
Voltarei, recomendo que ouçam os debates entre os políticos e não percam tempo a ouvir os que estão a ser pagos para o contraditório, com poder influência.
Joaquim Plácido

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