OPINIÃO

Sobre o meu neto Tiago

O cantinho de João Ferreira
Neste mês de janeiro de 2024, vou versar no meu cantinho sobre algumas coisas do meu neto Tiago, isto porque ele me tem ajudado imenso já faz vários meses. Tenho a agradecer imenso, mas antes de mais, começar pelo princípio: o Tiago em criança fez parte da equipa de basquetebol da Associação Desportiva de Vagos, percurso que acompanhei desde o início, não só em jogos da casa, mas também em Ílhavo contra o Illiabum. Mantendo o tópico do desporto, nesse tempo também acompanhei o jogo das Cegonhas em Pombal, tendo seguido num autocarro que partiu da antiga Casa do Povo, onde hoje está a Santa Casa da Misericórdia.
Também nesses tempos de infância, perguntava ao meu neto pela escola que frequentava na rua Dr. Humberto Mendes Correia (também conhecida por rua da Central) e pela sua categoria: “Em que lugar estás tu na escola? Estás em primeiro como eu estava?” ao que o meu neto respondeu: “Não estou em primeiro porque em primeiro está a professora, mas já lhe emendei alguns erros no quadro.” O percurso escolar do Tiago foi sempre sem percalços semelhante ao meu, isto era certo até ao nono ano, onde se deparou com uma professora que por força o quis reprovar.
O caso não se deu, mas no ano seguinte e por princípios de uma doença mental o meu neto reprovou por faltas e aí começaram as dificuldades em terminar o ensino secundário: passou pela escola de Ílhavo, mais tarde esteve no IEFP de Aveiro, mas viu ambas essas tentativas fracassadas. Tanto o mundo como a família pareciam desesperar em relação ao seu futuro, e então deu-se o volte-face: o Tiago terminou o ensino secundário em Vagos num curso EFA noturno, e com a maravilhosa nota do seu exame de acesso à Universidade em inglês, entrou em Coimbra com distinção de 3% melhores entradas. Na Universidade, conheceu a sua esposa, e terminou primeiramente a licenciatura, e mais recentemente um mestrado.
Nesse percurso académico, deparou-se com várias professores e professoras, uma das quais até contactei através de carta, ofereci um exemplar do meu livro “A Redenção”, bem como um retrato da minha autoria. No entanto, não seria essa professora, a que provocaria o meu neto Tiago a escrever e, de alguma forma, manter a minha arte. Esse facto deu-se nas aulas de Poética e Escrita Criativa. Podia estar tempo sem conta a explicar, mas neste breve esboço, cabe-me apenas enumerar os cinco tomos que o meu neto já doou à Biblioteca Municipal de Vagos: “As minhas evasões artísticas”, “Caminhos que ninguém escolhe”, “Diário em Estilo Parnasiano”, “Olhando Passadas já Passadas” (prefaciado por mim), e por último, “Pelo Viés da Confirmação”. Mais que poeta como eu sou, o meu neto também é autodidata na música, e esforça-se no seu quotidiano, para levar a cabo criações que me diz serem de um novo género musical, que funde a lírica com música de âmbito futurista.
Muito mais haveria a dizer, mas o meu espaço começa a findar. Assim, dá-me felicidade ver, aquele rapaz que partilhou viagens comigo a França, Costa Vicentina e Ilha da Madeira (neste último paradeiro até tem uma meia-irmã, a minha neta Joana), porque o seu futuro agora parece muito mais brilhante, semelhante a como era de princípio: com aquelas histórias que conto a toda a gente, de como “Na França, num parque tão bonito, e sem diversões para crianças?”, de como “Já salvámos uma pessoa hoje” e de como “Eu quero ir ver o crocodilo em Narbone”, tudo memórias que ainda hoje me ocorrem e acalentam o coração.

João dos Santos Ferreira

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