OPINIÃO

Professora de primeira viagem

Opinião

Ser professora não era o meu sonho de pequenina. O gosto e o respeito pela profissão foram crescendo ao longo de todo o meu percurso escolar, durante o qual tive contacto com professores extraordinários. Foram eles que me fizeram perceber a importância que um professor/educador tem na vida de uma criança ou jovem, na vida de um “cidadão em construção”. Apesar da energia que a profissão consome e de todos os desafios da vida pessoal de cada um, esses docentes tinham uma capacidade impressionante de chegar à sala de aula e cativar qualquer pessoa, com o entusiasmo e o “brilho nos olhos” característicos de quem adora o que faz. É neles que eu me inspiro todos os dias, enquanto professora em início de carreira.
É importante referir que, na minha opinião, o curso de Ensino está longe de nos dar as ferramentas necessárias para enfrentarmos os desafios da carreira docente na sociedade contemporânea. Não nos prepara para a complicação burocrática que nos desvia e desconcentra do que realmente importa, a educação dos jovens; não fornece uma base teórico-prática consistente relativa à psicologia infantil ou psicologia comportamental, a fim de compreendermos melhor alguns comportamentos dos jovens e termos a capacidade para lidar com as situações da melhor maneira. São alguns exemplos do que considero que me faz falta enquanto novata nesta carreira. Por outro lado, durante o curso, percebi que há uma grande preocupação em realçar a importância da multiculturalidade emergente nas escolas, a heterogeneidade das turmas e a valorização de cada aluno como único, o que acho ser essencial para uma boa prática docente. Neste sentido, o ano de estágio foi imprescindível para a minha aprendizagem e desenvolvimento porque foi quando experienciei no terreno, com os jovens, a exigência inerente ao trabalho de um professor. Tendo em conta que estávamos em contexto de pandemia ainda foi mais desafiante, uma vez que tínhamos de coordenar o ensino presencial com o ensino online de forma a evitar, dentro do possível, falhas na aprendizagem dos alunos. Foi intenso e trabalhoso, mas, ao mesmo tempo, muito gratificante.
Neste momento encontro-me colocada numa escola a 400 quilómetros de casa, com horário completo e anual, o que se pode considerar uma sorte para quem concorreu pela primeira vez este ano. Ainda estou a “apalpar terreno”, a tentar organizar e compreender a imensa quantidade de papel que temos de preencher e entregar a alunos, pais, colegas, diretores, enquanto preparo as primeiras aulas do ano letivo. Tem sido exigente e algo assustador entrar neste sistema confuso e consumido pela excessiva burocracia, à mistura com alguma revolta e descontentamento. O que me trouxe a esta profissão não foi isso, foi a possibilidade de ser parte do desenvolvimento de tantos jovens, de os alertar para o mundo em constante mudança, para que sejam cidadãos responsáveis, críticos, inclusivos, confiantes e motivados a fazerem algo de bom com a sua vida e a contribuir para uma sociedade mais justa. Deve ser essa a base do que fazemos, mas para conseguirmos concretizar o que pretendemos precisamos de estar nós próprios (professores) saudáveis, física e mentalmente, motivados e apoiados. Assim é muito difícil, Sr. Ministro, estamos demasiado longe de casa.

Carolina Ré
Professora

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