DESPORTO

O Futebol profissional em Portugal– uma análise à sua competitividade

Começou em 13 de agosto a 89ª edição do Campeonato Nacional de Futebol – agora com o nome do patrocinador BETCLIC – e tutelado pela Liga de Clubes Profissionais de Futebol, um organismo autónomo da Federação, que faz a gestão do Futebol profissional. Sendo esta a principal modalidade, é dominada pelas análises emotivas e frequentemente pouco racionais, matizadas pela opção clubística de cada um; por isso, este pequeno estudo procura dar a conhecer dados objetivos (fontes: Liga de Clubes, JN-Suplemento de 12 de agosto e plataforma TransferMarket) e fazer-nos refletir sobre esses mesmos dados.

A dimensão dos clubes portugueses e a sua competitividade interna

O quadro 1 descreve objetivamente a realidade dos 18 clubes da Liga profissional portuguesa e vemos a enorme disparidade existente entre eles: entre o primeiro (o Benfica) e os 13 últimos existe uma proporção média superior a um para vinte (1/20), nos orçamentos, mesmo acontecendo com o FC Porto e Sporting, embora em menor proporção (1/16, no primeiro caso e 1/12, no segundo caso). Quanto ao valor dos plantéis a discrepância ainda é maior: 1/33, entre o mais valioso (Benfica) e o menos valioso (Estrela da Amadora).

A competição fica marcada por estes desajustamentos – pouca competitividade geral (havendo o campeonato dos primeiros e o campeonato dos últimos), estratégias ultradefensivas e de antijogo por parte das equipas menos valiosas e pouca atratividade geral, refletida nas reduzidas assistências. Com efeito, luta-se com armas completamente desiguais e os poderes ocultos que todos conhecemos, muitas vezes ainda acentuam essas desigualdades.

A dimensão dos clubes portugueses e a sua competitividade externa

Façamos agora no quadro 2 um estudo comparativo da Liga Portuguesa com as 5 Ligas Europeias de Futebol Profissional mais fortes (a chamada 1ª divisão europeia): Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e França, começando pelo valor dos respetivos plantéis (em milhões de €).

Vejamos agora no quadro 3 um estudo de maior pormenor entre os 8 clubes mais “fortes” de cada uma das 6 Ligas Profissionais referidas (valor dos plantéis em milhões de €uros):

A relação é altamente desvantajosa para os clubes portugueses, por aqui se vendo a desproporção competitiva que se manifesta nas provas da UEFA; isto, claro está, sem esquecer que estes dados não representam tudo, sendo de considerar as dinâmicas de cada equipa que, por vezes, ultrapassam os dados de natureza financeira. Por vezes, David vence Golias, mas isso é raro…

Tentámos realizar um estudo comparativo dos orçamentos dos clubes, mas tal não foi possível, pelo facto destes dados não estarem disponíveis; no entanto, pensamos que manterão esta proporcionalidade.

Que conclusões?

A primeira conclusão é a desigualdade competitiva dos clubes portugueses, tanto a nível interno, como a nível externo. A nível externo é impossível reverter a situação, porque tem a ver com a riqueza dos próprios países (embora exista um relativo nivelamento, dentro de cada país); a nível interno, seria desejável que diminuísse o fosso entre os 3 ou 4 clubes “maiores” e os restantes, porque iria aumentar a competitividade do campeonato e, inevitavelmente, a sua qualidade.

A outra importante questão: é isso possível? Penso que sim, embora de forma progressiva e dentro de um certo limite, utilizando sobretudo as receitas televisivas. O Sporting, o Benfica e o FC Porto arrecadam a maior parte destas receitas: por um lado, é justo, porque têm grandes massas de adeptos; por outro é injusto, porque não jogam sozinhos e os restantes clubes não são parceiros menores. A melhoria da qualidade do Futebol português passa por um maior nivelamento dos 18 clubes da primeira Liga.

PB

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