Opinião
Em Portugal existem 1 792 719 pessoas com deficiência, seja ela auditiva, motora, visual, mental ou outra. À imagem de outros países ocidentais a população portuguesa é envelhecida, existindo 1 210 822 com mais de 75 anos. Estes números não são totalmente cumulativos, dos idosos alguns terão incapacidades, outros não, dos incapacitados alguns serão idosos outros não. O que importa reter é que cerca de 2 000 000 não conseguem viver sem apoio. A juntar a estes números teremos de considerar as crianças, 1 354 417 têm menos de 14 anos, em números redondos 3 500 000 cidadãos portugueses não têm uma autonomia plena.
Se porventura existem dúvidas sobre a necessidade da existência de assistência social pública, só poderão habitar nas mentes daqueles que ignoram a realidade social. Os idosos, as crianças e os incapacitados, têm imperativamente de ser apoiados pela restante população.
Na loucura competitiva e ambição de poder financeiro, grande parte da população ativa ignora aqueles que nunca poderiam subsistir sem atenção e apoio de outros. E quem são esses outros? São os trabalhadores das creches, dos lares, dos apoios domiciliários, dos apoios aos incapacitados. Aqueles a que muitos dos ditos novos ricos, com caríssimos veículos e com pressa de ir ganhar mais uns milhares de euros, são capazes de apitar no trânsito e de insultar aquelas formiguinhas e abelhinhas (só que ao contrário… em vez de colher distribuem…), que vão mais lentas no trânsito ou que têm de parar em frente à casa de alguém que não viveria sem elas.
Só no nosso concelho vaguense, são centenas de mulheres e alguns homens, que a troco de um salário mínimo vão trocar as fraldas a idosos, incapacitados e outros, lhes vão dar de comer, dar uma palavra de conforto, e depois de dezenas de fraldas e higienização das partes baixas de estranhos, vão para casa tratar das suas famílias, dos seus filhos, dos seus idosos… incansáveis. E depois, quando finalmente estendem o seu corpo num colchão, ainda vão ter de lutar com as imagens que lhes ficaram gravadas desse dia, e do dia anterior, e do outro, e do outro, e do outro… e no dia seguinte, enchem o peito de ar, e aí vão novamente cuidar dos outros, imperativamente, cuidar dos outros…
Deixo aqui o desafio, quando virem uma carrinha de uma IPSS, saúdem as pessoas que nela vão, sorriam-lhes, agradeçam-lhes, façam-nas sentir aquilo que realmente são: heroínas!
Paulo Gil Cardoso