ECO DA SANTA CASA

A Mordomia do Teatro, de volta a um novo normal

Caro leitor, o Teatro Fantástico, Mordomia da Santa Casa da Misericórdia de Vagos, voltou ao palco tradicional com uma comédia em três atos, “Um Fantasma chamado Isabel” de Miklos Marai, pseudónimo de Henrique Santana. Até agora fizemos seis atuações, quatro em Vagos no âmbito das festas da Vila e do Divino Espírito Santo, atingindo um universo de mil pessoas.
Um novo normal, o futuro o dirá, foram as provações que experimentámos para colocar em cena esta peça. Começámos em outubro de 2022 os primeiros ensaios, com um elenco que se mostrou disponível para o desafio. Até à primeira mostra pública em Manteigas em fevereiro 2023, o elenco mudou três vezes, por limitações pessoais dos atores escolhidos. O retomar já estava a ser difícil, muito pela mudança de rotinas a que a pandemia nos forçou, e em cima disso, juntaram-se as questões de saúde e trabalho, dentro do elenco, ou dos seus próximos. Contudo, olhando do lado que dá o sol, o produto final saiu até refinado, porque os atores experimentaram vários papeis, e fixaram-se nas personagens mais confortáveis a cada um, com a vantagem de todos saberem os papeis uns dos outros ou quase.
O desenvolvimento do argumento: por vezes, na vida, a verdade nua e crua, é inconveniente em determinadas circunstâncias. Mas o problema está no destinatário da mensagem, que vai sempre achar que está a ser enganado. Depois juntam-se as teorias filosóficas conservadoras de há duzentos anos, mas ainda seguidas por alguns na nossa sociedade, e está feita a trama. A necessidade de camuflar a verdade com uma pequena mentira, porque “um homem quando fala com mulheres, só deve recorrer à verdade quando lhe faltam as mentiras!”, invocando a proteção do pensamento do filósofo Arthur Schopenhauer que sugere que “as mulheres são criaturas de cabelos compridos e ideias curtas”, provocam o público até aos apupos ruidosos em desabono destas correntes de pensamento. Mas esta comédia controversa, sendo despretensiosa, tem duas funções: a de fazer rir e limpar a alma; deixar o subconsciente a pensar, porque os direitos, liberdades e garantias do nosso tempo, necessitam sempre de vigilância.
A última atuação: a pedido da organização das Jornadas Mundiais da Juventude (COP Vagos), acordamos que esta reposição serviria para atenuar os gastos económicos, associados ao acolhimento na nossa Paróquia, dos cinquenta jovens de todo o Mundo que por aqui vão andar, antes do epílogo em Lisboa. Mas seria muito redutor, olharmos só deste ponto de vista imediato, como fazem a maior parte dos comentadores; Portugal e Vagos, precisam de se mostrar ao Mundo, falar da nossa cultura e dos nossos valores, e deixar a mensagem a esta comunidade de jovens, que acolhemos todos, e com maior facilidade os que partilham os nossos valores. Nunca tanto se falou como agora, que precisamos de um saldo migratório para combater o envelhecimento do País. Ora, aqui está um investimento certo!
Para terminar: agradecer à Camara Municipal de Vagos o suporte protocolar a esta Mordomia; agradecer à Santa Casa da Misericórdia de Vagos a disponibilidade económica e de meios; agradecer ao público que não se cansa de nos ver e aplaudir, tendo nós a perceção que somos cada vez mais referenciados, o que só aumenta a nossa responsabilidade.
Votos de boas férias: para os nossos colaboradores, leitores, clientes e amigos.
João M. C. Domingues
Mesário Vice-Provedor

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