O CANTINHO DE JOÃO FERREIRA
Ultimamente, o CER de Vagos não tem estado à altura dos pomposos tempos do passado, uma vez que só se encontra aberto 4 horas diárias, das 8 horas às 12 horas da noite, com fecho ao domingo. Louve-se a recente exposição de quadros, da autoria deste modesto articulista, que ali estiveram expostos durante seis semanas.
Está programado para 15 de abril uma sessão em que é designado “microfone aberto” e que no momento em que estou a iniciar este trabalho ainda não sei se será um êxito ou não. A ideia parte dos intervenientes nessa sessão e irei falar no passado da coletividade que se ficou devendo, inicialmente aos senhores, já falecidos Armando Martins Rosa e Duarte João Gravato, que foram os da ideia inicial a que logo se juntaram mais 49 indivíduos, todos eles já falecidos e cujos nomes estão à vista dos associados na atual sede.
Inicialmente a coletividade iniciou as suas funções em prédio defronte da capela do Senhor dos Passos, onde voltaria a estar algum tempo, aquando da construção, da sede, pois onde atualmente está a sede era um consultório ocupado pelo dr. António Lúcio Vidal, bem conhecida, acerca da qual seu filho até escreveu um livro, um trabalho da minha autoria, a pedido deste, que se refere ao dr. António Lúcio Vidal, que foi uma grande figura vaguense do passado.
Mais tarde o edifício foi um tanto alargado, onde andaram mestres de obras bem conhecidos, os quais eu próprio ajudei de servente até ser forçado a sair dali devido aos “pintassilgos” nos ninhos.
Quando o salão foi feito, começaram ali sessões de teatro e variedades, tendo cenários de Eurico de Matos e interpretações de António Sérgio de Pinho e Ricardo “joia” nos principais papeis, já que um rapaz tinha que fazer o papel de rapariga, como em “O Noivo de Alcanhões”, onde António Pinho era o galã e o “Jóia” fazia o papel de rapariga.
Nas variedades os que as representavam e dirigiam eram José Mateus de Almeida Júnior, Américo Mateus, seu irmão Abel e António Sarabando, todos já falecidos. Havia muitos ataques à Câmara como: Verde parreirinha/ Cobre com teu manto/Tanta porcaria há por certo canto. /Quem passa na estrada/ Até parece mal/ Está logo a “privada” junto ao Tribunal: A “privada” era o local onde se ia urinar, pois não havia urinóis nem cafés onde se fosse urinar.
A estrada principal era em areia e cantavam também nas sessões: O “Santinácio” do Boco/ Prometeu limpar a rua/ Mas como não mora em Vagos. /A lama cá continua.
Depois veio a companhia de Lisboa que por Vagos se demorou algum tempo, interpretando “Amor de Perdição”, Rosa do Adro”, “Rainha Santa” e outras peças, onde entravam jovens de Vagos, já falecidos. Era a companhia de Teatro Alberto de Oliveira, de que vi alguns pedaços das peças já mencionadas. Eu que estou escrevendo a lembrar o passado do CER sou dos associados mais antigos, nos meus já festejados 91 anos em 10 de fevereiro passado e, embora não vá ali, pois já tenho uma longa idade, que me não permite sair à noite, tenho a quota em dia. Mesmo morando outrora em Soza, onde contraí matrimónio, tinha direito a pagar quota inferior, mas nunca quis ter os direitos dos associados da vila. Paguei sempre a quota como se morasse em Vagos e tinha possibilidade de pagar menos. Não posso também esquecer quando ao CER veio o cantor Max, cantar a “Mula da Cooperativa, que deu dois coices no telhado/Por causa do Zé da Adega/ Não saber cantar o fado”. Cantaram também 2 jovens vaguenses: Alberto Merendeiro, falecido e Francisco Oliveira, que mais tarde fez parte do Orfeão de Vagos.
Referi-me muitas vezes ao CER e participei em campeonatos de cartas e ping-pong, tendo até obtido o 3º lugar da classificação geral, o que foi muito honroso.
Muito mais haveria que contar acerca do historial do CER, pois houve também sessões de cinema, mas fico-me por aqui.
Muitos contribuíram para o CER e é pena que a coletividade vá um dia ficar pelo caminho quando já teve uma história tão rica.
João dos Santos Ferreira