Tem a Palavra a Mesa

Alegremo-nos … ou não?!
Já repararam? Parece uma das antigas redações da escola primária, cujo título se circunscrevia à época do ano que atravessávamos…
Pois “Yaya, tipo…, só que não!” como dizem os jovens… temos que dar mais atenção às suas expressões disruptivas. Também nós tivemos as nossas…
Assim é, meus queridos, a primavera está aí, as flores já despontam, a passarada demonstra-nos a alegria dos novos tempos para este ano, com os seus chilreios e cantorias. Fizeram-se anunciar até antes da data marcada no calendário dos humanos que tudo sabem! Sabem?!? Ora vejamos! Nós, humanos, que fazemos!?! Nós, sábios detentores de todo o domínio das palavras, da ciência, da técnica… autoproclamando-nos de seres racionais, inteligentes, superiores… Continuamos a fazer a diferença em contraciclo com a natureza: aceleramos até ao estampido, buzinamos ruidosamente, travamos ruidosamente, derrapamos ruidosamente, fazendo “ratters” … Propomo-nos buzinões de protesto!! Quais “Selvagens do calhau”. Tanto século de “evolução”, para isto!?!
Por quê e para quê, tais atitudes? Disseram-me em tempos que a vida está tão complicada que é “da necessidade de extravasar os nervos…” (?!?) Naquele momento, eu que sempre gosto de contrapor as minhas ideias e teorias, paralisei, emudeci, por ter pensado “Aqui, já nada há… nada a acrescentar, a melhor política é “de terra queimada”. Paga e sai daqui o mais rápido que puderes, antes se soltem os mais íntimos pensamentos e há quem não te mereça este esforço…”
Era a era COVID e tudo era desculpado pela falta de normalidade desses dias… Mas, aquele momento nunca mais me saiu da ideia; cada acelera que passa à minha porta – e, todos os dias, são tantos(!), acorda em mim a angústia de não ter respondido àquela pessoa…
Hoje, todos os dias lamentamos, insurgimo-nos mesmo com os preços dos combustíveis, mas, estranhamente, continuamos a provocar a sua inútil dissipação, nas tais aceleradelas que, sem qualquer resultado prático, apenas servem para deixar uma nuvem preta no ar, um cheiro nauseabundo e estampidos ensurdecedores, a lembrarem a guerra ali no outro lado do nosso continente! Sendo que, alguns metros, mais adiante, param na fila que não avança… “Bem feita”, penso eu, mesquinha e mazinha!! Há dias assim, confesso!
O que aconteceu para, depois de tantos estudos sobre as diferentes formas de poluição, continuarmos a insistir em atitudes repassadas, velhas, hediondas? Continuamos individualmente a achar que não podemos fazer a diferença?
Pior, mesmo, são os jovens a dizer-nos que a mudança individual de atitudes, não vai fazer diferença, colocando nos “outros” a responsabilidade pela sua falta de atitude em relação a algo que só a eles vai afetar. Sim, hoje já é tarde! Mas, «mais vale tarde que nunca». Hoje, tem que acontecer a diferença nas ações do dia a dia: se a minha ação é minúscula, num universo de ações desajustadas, não fará mesmo a diferença? Pensem bem, a minha / nossa ação vai propagar o exemplo aos nossos pares, tornando-se eco do eco que queremos ouvir… pelo gesto positivo no nosso “modo de estar”, poderemos obter mudanças que trarão mudanças… Quero acreditar! Só me resta continuar a acreditar, para fazer acreditar.
Já sei: “vivo numa bolha”; é raro o dia em que não ouça esta expressão. Vivo sim! E, assim quero continuar: não podemos desistir, na nossa atitude, enquanto adultos, demonstrando falta de respeito pelos mais novos e pelo futuro legado que lhe preparamos.
Agora, os ainda mais novinhos! Quem os acompanha atentamente nas diferentes etapas do seu crescimento, facilmente reparará no entusiasmo dos pequeninos, a chamarem a atenção para os nossos “vícios”, apontando, com um dedito acusador, as nossas atitudes menos corretas. A sua extrema sensibilidade, faz-nos parar por instantes, sorrir embevecidos, enternecidos, esmagados com já tanta sabedoria; mas, rapidamente, passamos a outra coisa, ignorando de novo aquele reparo crucial! Mais tarde, estes mesmos seres, já conformados com as atitudes dos mais velhos (nós, os adultos), são eles que encolhem os ombros para as verdades que lhes tentamos reavivar na consciência; afinal, esse encolher de ombros é o exemplo que lhes passamos todos os dias, no nosso desalento e que nos tolhe, nas nossas próprias mudanças.
Sim, somos nós, os adultos que, no quotidiano abafado pelo stress das rotinas, vamos “matando” o potencial de esperança que existia naquelas cabecitas esperançosas dos nossos meninos e meninas. E dói tanto, constatar essas indiferenças de indiferenças feitas. São muitos anos a observar estas mudanças. A escola (desculpem a minha deformação profissional) tenta enviar “recados” para casa – trabalhos de casa ecológicos, inúmeras mensagens para mudar atitudes, mudar mentalidades, e, nada, pouco ou nada, muda! O tal eco que deixa de ecoar por ter sido abafado, no interior de cada um de nós. E esses “NADAS!” somados, causam a desolação, primeiro e, depois, a acomodação ao “não há nada a fazer”. Dói tanto dedicarmos a vida a um capital de esperança que, ano após ano, vamos vendo delapidado, embaciado, entorpecido.

Há hoje em dia, duas atitudes muito distintas, diria antagónicas e que farão toda a diferença, no futuro dos nossos mais amados jovens. E, dos mais pequeninos que nada fizeram para merecer um planeta assim, por eles e elas, quero acreditar que ainda estamos a tempo…
Em mês de LIBERDADE, só me apetece falar de RESPONSABILIDADE! É chavão, eu sei, mas é o que sinto!
E, em mês de passagem e ressurgimento, qual vai ser o seu novo rumo?
Muita PAZ e um bem-haja, a todos!!

Maria do Céu Matos

Mesária

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