As migrações de cidadãos que procuram uma vida melhor são uma experiência comum e crescente, num mundo cada vez mais interligado.
No nosso país, com maior incidência há algumas décadas atrás, muitos milhares de cidadãos nacionais saíram para o estrangeiro, procurando encontrar noutros países as oportunidades de trabalho e de vida que não era possível encontrar no interior das fronteiras nacionais. Entretanto, os nossos territórios tornaram-se igualmente lugares de acolhimento de cidadãos estrangeiros que vêm com o mesmo propósito.
Vagos não foge à regra e é também um território de migrações.
Destacam-se as vagas de emigração das décadas de 50 a 80, por vezes de toda uma família que fugia à pobreza para vários pontos do mundo, sobretudo França, Suíça, Luxemburgo, Alemanha, Estados Unidos da América, Canadá, Brasil e Venezuela. Para as áreas da construção civil, padarias ou limpezas. Ou ainda para a pesca de bacalhau, na Terra Nova e Gronelândia. Por todo o nosso concelho encontramos quem teve na família uma experiência de emigração ou que tem familiares que ainda estão no país de acolhimento. Por alguma razão temos Ruas e Festas “dos emigrantes”. Em várias publicações sobre a pesca do bacalhau, não raras vezes encontrarmos referências a Vaguenses.
A emigração de hoje é de uma dimensão incomparável às vagas referidas e também de perfil diferente, incluindo jovens com formação superior que saem porque encontram “lá fora” maneiras de valorizarem as suas competências.
Ao mesmo tempo, Vagos é hoje território que recebe: nos últimos anos, as nossas escolas foram rejuvenescidas por crianças venezuelanas e de outras nacionalidades; as nossas empresas, com falta de mão de obra, têm incorporado trabalhadores de todo o mundo (da Eritreia à Europa de Leste) e, como em vários territórios do país, também em Vagos se acolheram ucranianos por força da guerra que atualmente assola esse país.
Este é um cruzamento de experiências inspirador para uma iniciativa de caráter pedagógico que envolva migrantes Vaguenses que saíram e voltaram, os que ficaram no estrangeiro – que as novas tecnologias aproximam – ou os estrangeiros que vieram para Vagos. Para o registo de histórias em áudio, fotografia, vídeo, etc. sobre o nosso concelho enquanto território de emigração e de acolhimento.
É o que permite, por exemplo, o Projeto Educativo do Agrupamento de Escolas de Vagos, cujas “Missão” e “Visão” são assentes numa base humanista e orientadas para uma cultura de diversidade democrática e cujo “Plano de Ação” estimula a “Relação com o meio” e a “abertura do agrupamento à comunidade”.
Tal iniciativa, mereceria um patrocínio da autarquia, que pode gerar um prémio e disponibilizar um espaço museológico para expor os resultados.
Seria um bom contributo para a preservação da nossa história, a compreensão intergeracional e intercultural e o reforço dos laços na nossa comunidade.
Bruno Julião
Técnico de Relações Internacionais, Professor e Deputado Municipal de Vagos