Vaguense de alma e coração
NOTAS…SOLTAS
BANDA VAGUENSE FILARMÓNICA VAGUENSE 1860 – 2023: 163 anos de Música, por Vagos
Voltando a recorrer ao livro comemorativo do 150º aniversário do nascimento da Banda Vaguense -2010 – transcrevemos para aqui o que aí se escreveu acerca deste vaguense, que durante a sua vida muito engrandeceu a nossa instituição.
“A extensa história da Filarmónica está indelevelmente marcada por grandes músicos vaguenses, que se formaram dentro da associação e foram seus executantes, alguns durante várias décadas.
Uma figura incontornável na história mais recente da Banda/Filarmónica é, sem dúvida, João Batista Ribeiro, o “São Martinho”, um vaguense de alma e coração, que dedicou grande parte da sua vida ao serviço da Banda Vaguense.
Tendo aprendido música com mestres vaguenses, iniciou a sua colaboração como hábil executante de caixa; mais tarde passou para um instrumento do seu tamanho, a tuba – que o acompanhou no seu posterior percurso musical.
Mas foi também professor na escola de música, ensaiou e dirigiu a Banda Vaguense, e fez parte dos seus corpos diretivos, por diversas ocasiões.
O “São Martinho” – nome por que era conhecido em Vagos – esteve sempre na linha da frente de todas as “batalhas” que a Banda/Filarmónica se viu obrigada a travar. E, nas horas mais difíceis, quando quase todos desanimavam, lá se impunha ele, “carregando” às costas o destino da música vaguense.”
Aquando da comemoração dos 100 anos da nossa instituição – 1960 – o Dr. Frederico de Moura, ilustre médico vaguense, escrevia:
“Berardo Pinto Camelo parava muito na oficina do alfaiate João São Martinho, que era assim como que uma espécie de sucursal da Banda Vaguense.
Ora, certo dia, quando eu passava despreocupadamente na rua, sou solicitado pela voz rasposa de asmático do Maestro, que me chamou para me dizer com entusiasmo: -Sr. Doutor, chegou hoje a tuba…
Como eu tivesse respondido com um «sim senhor» inexpressivo e vagamente tocado de ausência, o Maestro insistiu, acentuando: – Uma tuba, Sr. Doutor…
Bem me esforcei para festejar a novidade, bem tentei dar vigor à minha resposta, mas as palavras e os gestos que usei traíram, pelos modos, a ocultação que estava fazendo da minha ignorância acerca da importância que aquele instrumento possui num conjunto filarmónico.
Agora, sempre que vejo o João São Martinho a respirar para dentro do bojudo instrumento, como quem sopra para um espirómetro, sempre que o vejo carregado com aquela montanha de latão cheia de arabescos, lembro-me do episódio já distante.
E creio que hei-de lembrar-me ainda, por muitos anos que viva, mesmo que a elefantina corneta esteja já posta de lado, toda rota e coberta de azebre.”
João Batista Ribeiro faleceu em Vagos em Janeiro de 1998.
Votos de muitas “Notas…Soltas” nas nossas vidas.
José A. Almeida