EDITORIAL
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é um bem essencial à vida dos portugueses e salva-nos tantas vezes. Faço esta ressalva antes de avançar neste editorial, para que fique bem claro. Só que o SNS está cada vez mais fragilizado, tem falhas e os consecutivos Governos – independentemente das suas cores políticas – não têm conseguido acertar na receita certa para lhe dar mais saúde. Uma ironia.
Por todo o país, há relatos de portugueses sem médico de família. De pessoas, muitas em condições de saúde frágeis e em idade avançada, que têm que ir de madrugada para a porta do Centro de Saúde, de forma a conseguirem arranjar vaga para uma consulta. Na área da Saúde, quer queiramos que não, há portugueses de primeira e portugueses de segunda. Quem pode, recorre ao privado. Quem não tem meios para tal, muitas vezes agoniza. É fácil de constatar essa triste realidade, de que nem o nosso bendito SNS nos salva.
No meio disto tudo, há um aspeto que me salta muitas vezes à vista e que, nos últimos dias, ainda saltou mais, aquando da preparação da notícia que publicamos nesta edição, sobre o encerramento dos postos médicos de Covão do Lobo e da Gafanha da Boa Hora: os nomes que se dão aos espaços que antigamente eram apenas intitulados “Centro de Saúde” ou “Posto Médico”.
Nos últimos anos, tem havido reformas atrás de reformas. Já ninguém se entende se devemos falar em posto médico, centro de saúde, unidade de saúde, extensão ou polo. Há Unidades de Cuidado de Saúde Personalizados (UCSP) que passam a Unidades de Saúde Familiar (USF) e outras mudanças semelhantes. Muda o nome, mudam as siglas, muda a estrutura e torna-se difícil ao comum dos mortais – eu incluída – acompanhar tanta alteração.
Os governantes – e seus representantes – fixam-se num sem número de nomenclaturas, às quais dão uma importância desmedida, quando o conteúdo é tão mais importante do que a forma. E eu, que me assumo aqui como uma total leiga na matéria, quase sinto necessidade de fazer um curso especializado para traduzir para miúdos o que raio é que tantas siglas diferentes querem dizer. Caros governantes, simplifiquem. A população só quer saber uma coisa: tenho médico de família ou não? E a maior parte não precisa de tirar um curso para perceber que, lamentavelmente, a resposta que vai ouvir é “não”.
Salomé Filipe
Diretora do Jornal