Padre homenageado na sua terra natal
MANUEL DE OLIVEIRA JÚNIOR nasceu no lugar de São Romão, faz agora (em abril) precisamente 145 anos. Foi o primeiro pároco de Santo André, e dele se sabe ter contribuído para a criação daquela paróquia, ao liderar a «comissão» de que faziam parte Joaquim Oliveira (sacristão), José Raimundo, Manuel Costa Ferro, Manuel Martins de Jesus (Seroto) e Joaquim Nunes Conde (Esteves). Padre Manuel, que servia, como capelão, com «grande dedicação e zelo», as populações de Ervedal, Sanchequias, Vergas, Vigia, Santo André, Traz da Moita e São Romão, assinou a exposição dirigida ao arcebispo-bispo de Aveiro.
Justificando tal pedido, a «comissão» argumentava ser grande o «desgosto» dos cristãos em não poderem acorrer à Igreja, sempre que «ela nos chama e o nosso coração no-lo pede». Pela simples razão de ser grande a distância até Vagos, «sobretudo no Inverno que, para muitos, torna os caminhos quase intransitáveis». Homem de «sentimentos de caridade e de justiça, que põe acima de tudo o bem das almas», o sacerdote acabaria por ser nomeado, por decreto de 29 de junho de 1956, festa litúrgica dos apóstolos São Pedro e São Paulo, primeiro pároco desta nova freguesia.
Politicamente, foi presidente e vice-presidente da Câmara de Vagos. De resto, coube-lhe a honra de, nessa qualidade, assinar a escritura de compra do palacete do visconde de Valedemouro, onde até há poucos anos funcionaram os serviços camarários. Sócio contribuinte da Filarmónica Vaguense, no seu mandato foram construídas várias pontes, estradas, fontes e escolas.
Na sua terra natal libertou, ainda, os habitantes do isolamento e fez com que ali chegasse luz elétrica. Sonhou, também, com a ligação a Ouca, anseio que não viu concretizado. Tendo mobilizado o povo de São Romão, para que fosse construída a capela para o culto religioso viria, mais tarde, a adquirir, a expensas suas, o terreno para a construção da residência paroquial.
No campo social, Manuel Oliveira Júnior haveria de fundar a «Caixa dos Pobres». Caritativo e preocupado com o analfabetismo, abriu em São Romão um Centro de Instrução Primária, de que foi mestre-escola, e por onde passaram muitas crianças. Um deles foi Manuel dos Santos Rocha, natural de Calvão, onde fez a instrução primária, que haveria de ser Bispo de Beja. Nomeado pelo Papa Paulo VI, a 14 de dezembro de 1965, entrou solenemente na diocese de Beja a 26 de fevereiro do ano seguinte.
HOMENAGEM. Tendo falecido aos 94 anos, o Padre Manuel viria a ser expulso da freguesia de Vagos aquando da proclamação da República. Acabaria «degredado» para a vila de Ovar, onde permaneceu durante quatro meses.
Seria homenageado, em 2008, a título póstumo, pela Câmara de Vagos, Junta de Freguesia de Santo André e comunidade paroquial. Foi percursor, no seu tempo, daquilo que ainda hoje constitui a «imagem de marca» da Igreja do concelho, conforme reconheceu o autarca de Vagos. Uma «luta constante», travada pelo Padre Manuel, que se dedicou «de alma e coração», no sentido de dar «melhores condições de vida e dignidade aos cidadãos», acrescentou o então presidente, Rui Cruz, sublinhando que «a melhor forma de o celebrar era continuar a fazer e a construir nos mesmos moldes, investindo na educação e ação social».
Eduardo Jaques