OPINIÃO

De Outono em Outono, de COP em COP

Chegados a esta época do ano, começa um novo ciclo. As folhas caem coloridas das árvores, os dias encurtam e as castanhas estalam quentes na brasa. Os dias frios, já não tão frios nem previsíveis, confirmam a chegada de uma nova estação.
Coincidentemente, assistimos a cada Outono um novo ciclo anual de negociações entre diversos países que participam em duas Conferências das Nações Unidas: a das Alterações climáticas e a da Biodiversidade (COP). Nestas conferências, desdobram-se os debates sobre o nosso futuro coletivo e como salvaguardar os sistemas naturais que garantem a habitabilidade do planeta. Discutem-se ideias, definem-se estratégias, estabelecem-se acordos. E a cada COP que passa, aumenta a pressão para que os países tomem medidas drásticas mas necessárias. A biodiversidade continua em declínio acelerado e evitar ultrapassar o limite de 1.5°C de temperatura global parece cada vez mais difícil. Passados 30 anos desde a criação da convenção das Nações Unidas para as alterações climáticas, as emissões de gases com efeito de estufa registam valores históricos e sem sinal de abrandamento. As promessas a que vários países se comprometeram colocam-nos num cenário de um aumento à volta dos 2.5°C, não muito longe dos 2.8°C até ao fim do século com as políticas públicas actuais em vigor. Enquanto isso, os efeitos das alterações climáticas atingem desproporcionalmente diferentes partes do mundo, sendo os mais vulneráveis os países, comunidades e pessoas que menos contribuem para o problema.
Apesar de todo o progresso feito nas últimas décadas, as várias COP não têm tido a capacidade de comprometer os países para as mudanças que realmente precisamos. A concretização de medidas de combate às mudanças climáticas e perda de biodiversidade tem que ser prioritária em todas as escalas e setores, especialmente nos contextos locais. Em Portugal, os períodos prolongados de seca extrema, os fogos intensos e frequentes, a desertificação dos solos, o avanço do mar e a erosão costeira, entre tantos outros eventos, são uma realidade com efeitos alarmantes. Ainda assim, um estudo recente determinou que apenas 35 municípios dos 308 totais nacionais se comprometeram com a neutralidade carbónica e apenas 3 definiram estratégias para a atingir até 2050. A dessincronização das respostas necessárias com as crises que enfrentamos é evidente. Necessitamos de definir novos modos de agir, de gerir, de pensar. Teremos de adaptar o território às novas dinâmicas climáticas e ecológicas. Restaurar paisagens homogéneas e simplificadas em paisagens com múltiplas funções e valores. No domínio social e cultural, novas formas de participação individual e coletiva serão fundamentais. Colocar a natureza no centro das nossas sociedades.
À chegada de um novo Outono, renovam-se as esperanças que as COP liderem e reforcem as ambições para um futuro mais sustentável. Mas de ano para ano, pouco parece mudar enquanto tudo muda rapidamente. Da escala global à escala local, cabe-nos a todos começar essa mudança e o tempo para agir é agora.

Guilherme Castro
Investigador nos Jardins Botânicos Reais de Kew e membro da Direção da Associação Charcos & Companhia

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