Enquanto escrevo este texto, estão ainda a ser feitos esforços para que haja um compromisso, a assinar no sábado dia 19, dos países mais ricos em compensar os países mais pobres pelos danos e hecatombes resultantes das alterações climáticas. Sim, porque são os países mais ricos os maiores poluidores, seja nas quantidades massivas de emissões de gases de feito estufa, seja pelas décadas consecutivas durante as quais o têm feito.
O acordo de “perdas e danos” de financiar países em desenvolvimento que sofrem eventos climáticos catastróficos, pelo visto, não passará de uma quimera.
Esperava-se que nesta magna conferência, em Sharm el-Sheikh no Egipto, houvesse decisões e compromissos importantes que permitissem a inversão, ou que pelo menos impedir o agravamento da já evidente crise climática que atinge o nosso planeta, provocada pelas atividades humanas.
Olhando aos compromissos das nações, desde a Cúpula da Terra realizada em 1992 no Rio de Janeiro, passando pelo Acordo de Kioto em1997, onde foram lançados objetivos para a redução dos gases de efeito estufa, passando pelo Acordo de Paris em 2015, verificamos que a tendência tem sido de protelar, falhando sistematicamente as metas assumidas ou atirando-as para a frente no tempo.
É certo que algumas medidas foram implementadas, no entanto a concretização e a ação dos países subscritores dos acordos tem ficado muito aquém do acordado.
A enorme pressão da sociedade civil e de centenas de ONG (Organizações Não Governamentais) é enorme.
As vozes de alerta e de pedido de ação chegam de todo lado.
Mas nem o desespero das nações mais pobres e pequenas convence os mais ricos.
Os recursos naturais, como minérios, gás, petróleo, água, recursos agrícolas, recursos piscícolas, e outros, estão presentes aleatoriamente em todo o planeta, seria de esperar que fossem propriedade e de usufruto de todas as espécies que nele habitam, porém, alguns exemplares do Homo dito Sapiens Sapiens, reclamam a sua posse e gestão, explorando e chantageando os seus semelhantes no intuito de ter mais poder e riqueza, condenando os que estão fora das suas fronteiras à pobreza e à dependência. Esquecem, no entanto, que qualquer desses recursos não é renovável e terá um dia o seu fim.
Não haverá fronteira que impeça que o rico de hoje seja o pobre amanhã.
A atmosfera terrestre não é compartimentável, os oceanos não são contíveis em reservatórios, as correntes oceânicas e atmosféricas são um emaranhado global jamais controláveis nas suas dinâmicas.
Se um determinado país, dentro das suas fronteiras, reduzir emissões poluentes, enquanto outros continuam a poluir massivamente, não evitará que qualquer tempestade ou evento climatérico extremo se abata sobre qualquer local, atravessando e ridicularizando assim as fronteiras criadas por um ser que se reclama inteligente.
Cada dia que passa sem ação é um dia perdido na vida da Terra.
Paulo Gil Cardoso