Caro leitor, não será das regras, começar um artigo com um gráfico. Ainda assim, não será este atrevimento tão escandaloso, quanto o preço da energia, nomeadamente a componente do gás natural, que a partir de 2020 começou a disparar no preço, sem que ninguém o consiga deter. Nesta Santa Casa, os valores do consumo em metros cúbicos são muito estáveis, mas como o gráfico mostra, em 2021 face a 2020 aumentou o custo em cerca de 40%, e em julho de 2022 face a 2021, já contabilizamos um agravamento de 50%, ou seja, já estamos a pagar o dobro do que pagávamos em 2020 e nesta trajetória, terminaremos 2022 a pagar três vezes mais do que há 2 anos. Simplesmente insustentável! Até agora, e olhando para o período em análise, o consumo de energia, representa 3% do volume da faturação. Este indicador deve manter-se abaixo deste limite, mas em julho já está nos 4,4% e não me admira que termine nos 6%.
Naturalmente, desde 2012, temos feito investimentos, para poupar energia, e também para caminharmos no sentido da descarbonização da instituição. Este objetivo só é possível atingir, diminuindo tanto quanto possível, o consumo do gás natural, transferindo a necessidade energética para a eletricidade e garantindo o mais possível, que esta é produzida a partir de fontes renováveis.
Na componente elétrica, começamos em 2012 com 7 instalações de produção para venda à rede, neste momento está pago, e gera uma receita bruta muito interessante. Em 2014 mudámos toda a iluminação para LED e instalamos uma bomba de calor para aquecimento de água, reduzindo o consumo de gás e mantendo o consumo de eletricidade estável. No início de 2017 instalámos uma segunda bomba de calor, e como se vê no gráfico, o consumo de eletricidade aumentou menos que a poupança no consumo de gás. Em fevereiro de 2020 entrou em funcionamento a instalação fotovoltaica de produção de eletricidade, que nos dá uma autossuficiência consistente de 23% ao ano; só esta componente já poupou o envio para a atmosfera de 50 toneladas de dióxido de carbono, em menos de 2 anos.
Na componente do gás natural, que usamos fundamentalmente na cozinha, no aquecimento dos edifícios e alguma água sanitária, e na secagem na área da lavandaria, temos feito duas coisas para reduzir consumo: trocar a tecnologia de aquecimento de água por bombas de calor, e onde não é possível, trocar as caldeiras atmosféricas por caldeiras de condensação, que são mais eficientes. De referir que do parque inicial de caldeiras, já só resta uma que será substituída assim que avarie ou haja financiamento para troca por uma bomba de calor da mesma potencia térmica.
Esta estratégia de troca entre fontes de energia, para suprir as necessidades energéticas da instituição, obriga naturalmente a investimentos que só podemos fazer a um ritmo lento, porque os custos de troca de tecnologias são muito elevados. Aqui, ou há financiamentos generosos, para a troca de equipamentos e geração de eletricidade a partir de fontes renováveis, ou a agenda para a descarbonização de 2030 fica comprometida.
Pela nossa parte, e face aos desafios que o preço do gás natural está a colocar a todos os setores da economia, estamos a pensar desde já, construir uma nova planta de produção de eletricidade com painéis fotovoltaicos, equivalente à atual, mas com tecnologia que permita armazenar em cada momento o excedente de produção, para consumir no período em que não há sol.
Com isto, julgamos cumprir perante a sociedade, a nossa responsabilidade social corporativa, e não menos importante, garantir a confiança na sustentabilidade desta instituição.
Votos de um bom resto de ano, para os nossos colaboradores, leitores, clientes e amigos.
João M. C. Domingues
Mesário Vice-Provedor