ECO DA SANTA CASA

“O fruto proibido é o mais apetecido”

As férias das jovens na CAR estão quase a acabar! Daqui a nada, começa a azafama da escola, já muito desejada por elas. Até lá, as que podem, vão gozando períodos de férias junto das suas famílias. Para algumas meninas, estes períodos resumem-se a algumas horas, para outras resumem-se a longas e felizes semanas. Porém, nem sempre estes dias correm como foram sonhados.
Morar numa casa de acolhimento não faz parte dos planos de vida de qualquer criança ou jovem. Quando as circunstancias assim o ordenam, e porque são menores e não têm poder de dizer não, a entrada no acolhimento é, quase sempre, um período amargurado.
A liberdade de pensar e sonhar é algo que ninguém lhes pode roubar e, por isso, torna-se a sua tábua de salvação. Pensam que foram injustiçadas, que há lá fora quem se porte muito pior, pensam que foram vitimas de más avaliações dos técnicos e isso dá-lhes direito a sonhar o regresso ao seu meio natural de vida com grande intensidade e sofreguidão (por vezes com sofrimento).
Como dizem os antigos, “o fruto proibido é o mais apetecido”, e elas quanto mais se sentem afastadas dos seus, mais desejam a sua proximidade, mesmo que esta não seja, à luz dos olhos técnicos, a melhor solução. Ganhamos muito pouco com os afastamentos familiares (a não ser que sejam desejados pelas meninas). “Quanto mais se aperta a enguia mais ela foge”, como dizem os antigos desta zona. Ficamos com um dilema, protegemos e impedimos que caiam e esfolem os joelhos, tal e qual como acontece com os pequenitos quando começam a andar, ou permitimos esta aventura de testar o mundo, garantindo que estamos cá para tratar das feridas, sem ressentimentos e de braços abertos.
Na CAR, somos apologistas destes saltos com arnês e as férias escolares são uma ótima altura para testes. Mesmo quando nos parece que a família ainda precisa de alguma afinação, e sentimos que pode haver espaço de desilusão, garantimos o sonho delas e preparamos períodos de convívio familiar. Estes convívios à medida que vão sendo integrados nas rotinas delas passam a tornar-se os seus melhores aliados; dão lhes segurança de poder ir e voltar a qualquer momento se não correr bem, diminui-lhe a ansiedade e o medo de não serem ouvidas pelos técnicos, dá-lhes clareza para avaliar com outros olhos a sua família.
Quando tudo corre bem, a família empodera-se e ganhamos todos, podendo desenhar-se até novos projetos de vida a curto prazo. Outras vezes, os convívios não correm tão bem e mesmo assim são um ótimo remédio para ajudar a aceitar o único caminho possível. Por vezes, as convivências correm muito bem e mesmo assim o desejo intenso de voltar deixa de existir, dando espaço para o crescimento emocional…
Uma casa de família numerosa, como é a nossa, cheia de adolescentes, tem sempre muito barulho, muita algazarra, muito “diz que disse”, zangas e ralhetes, mas também, muitas brincadeiras, muitas experiências, muito conluio, alianças e colinho. Tudo isto é um remédio natural contra o silêncio, a solidão e o desapontamento, tornando-se o fermento de novos sonhos para as meninas que querem voar com asas próprias.
São todas as meninas que já foram passando por esta casa que nos têm ensinado estas coisas. Nós temos aprendido muito com elas e seguimos em frente para nos tornarmos ainda melhores técnicas neste oficio difícil de desamarrar nós.

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