EFEMÉRIDE

Incêndio no quartel não apaga solidariedade

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Aconteceu a 7 de julho de 1980, por volta das cinco horas. Madrugada trágica para os Bombeiros Voluntários, na sequência do incêndio que destruiu, com violência inesperada, grande parte do velho edifício, onde também se encontrava aquartelada a GNR. No combate ao fogo, acorreram as corporações de Ílhavo, Aveiro (Novos e Velhos), e ainda os privativos da Vista Alegre. Para os bombeiros apagarem “na sua própria casa” representava, afinal, “uma enorme perda de bens, mas sobretudo de um património histórico, sem mais resgate possível”, descrevia o escritor Armor Pires Mota, autor do livro “75 anos Bombeiros de Vagos”, que assinalava terem sido “consumidos pelas chamas todos os livros de atas, e outra documentação própria da corporação”.
Conforme noticiava o semanário Litoral, salvaram-se viaturas, mas “quanto ao resto os prejuízos elevam-se a milhares de contos”. O Jornal de Notícias reconhecia, por seu turno, que “a chuva, retardando o avanço das chamas, jogou a favor da GNR, pois deu tempo dos agentes de porem a salvo o armamento, arquivo e demais recheio do quartel; a mesma sorte não tiveram os Bombeiros que, à exceção das viaturas, perderam tudo”. Segundo o Terras de Vagos, o triste acontecimento “causou a maior emoção, em todos os elementos do Corpo Ativo e Direção da associação – um trabalho de organização, que levou dezenas de anos a fazer, desapareceu em poucas horas”.
Como seria de esperar, a solidariedade surgiu de imediato. A começar pela população de Vagos, que fez chegar aos bombeiros pão, café, leite e outros alimentos. O movimento alastrou a vários pontos do país, de onde surgiram mensagens de apoio, moral e financeiro, como aconteceu com a Câmara de Oliveira de Azeméis, que comunicou à Associação ter colocado à disposição a verba de 50 contos de materiais de construção. Em Vagos, uma comissão levou a cabo um peditório, a nível concelhio, enquanto as empresas ofereceram materiais, para a construção do pavilhão destinado à recolha das viaturas. Depois de ter sido aprovado, por unanimidade, em reunião da Assembleia Municipal, um voto de “solidariedade para com os Bombeiros”, o presidente daquele órgão, Basílio de Oliveira, aproveitaria a presença na sessão da Assembleia Distrital, para fazer um apelo dramático às entidades administrativas distritais, para que “pressionem a Administração, em ordem à rápida e imperiosa necessidade da construção do novo quartel”.
Face ao contencioso, que opunha a Associação Humanitária e a Câmara Municipal, e trazia em constante alvoroço as gentes de Vagos, e colocava a extinção do Posto de Vagos da GNR (despacho de 18 de julho de 1980, do MAI-Ministério da Administração Interna), viria a ser votada, em assembleia-geral, uma proposta polémica, apresentada pela direção de António Gala. Em causa estava “a cedência, à Câmara, de uma faixa de terreno, considerado dispensável em ordem à instalação do quartel da GNR, a desanexar do prédio pertencente à Associação, sita junto à Praça da República”. De referir que, dos 94 votos entrados na urna, 79 acabaram por dizer “sim”.

Eduardo Jaques

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