EFEMÉRIDE
Satisfeitos com o repasto, e no meio da natural cantoria com que geralmente terminavam os jantares, alguém se lembrou de debitar uma “boca” atrevida: “Qualquer dia, ainda havemos de formar um conjunto”. Dias depois, o João Martins comprou o bombo, o cavaquinho e os ferrinhos. Pediram apoio logístico e financeiro, ao grupo desportivo do banco, recrutaram nas agências das redondezas uma boa dúzia de executantes, e um belo dia, sem se dar por isso, os TOCA E BIRA aprazavam o seu primeiro ensaio. Como bancários que eram, cedo verificaram, porém, que tinham mais conhecimentos de banco que de música. E essa conclusão levou-os a socorrerem-se de novos talentos, entre os quais dois jovens estudantes de música do Conservatório de Aveiro, o Zé Paulo e o seu violino, e “mestre” Aquiles Capela com o seu bandolim.
Passados dois anos, os TOCA E BIRA acabariam por afirmou-se como único intérprete da música popular portuguesa, no concelho de Vagos, onde, de resto, atraíram enorme popularidade. Com atuações repartidas, por espetáculos de beneficência ou de natureza sindical, como aconteceu também na festa de Natal do Sindicato dos Bancários do Norte. Sem se assumir regionalista, o grupo mantinha reportório variado e tinha progredido na recolha de novas músicas. Tal tarefa estava cometida a José António Almeida, que havia herdado do pai, o saudoso José Mateus, patrono das famosas marchas e “cegadas”, o jeito e gosto pelas artes musicais. Contudo, o tempo disponível era pouco.
Com ensaios duas vezes por semana e gravações em estúdio em Esgueira, alguns dos elementos ainda faziam parte do Orfeão de Vagos. Uma pequena violência para o cidadão comum, encarada com natural desportivismo pelos bancários, que, entretanto, viriam a atuar em Coruche e Viseu, e também no Teatro Aveirense, na RTP 1 e Alemanha. Mas os TOCA E BIRA tinham projeto para o futuro, que passava pelo aparecimento de uma “cassete”, editada sob os auspícios do Grupo Desportivo do Banco Fonsecas & Burnay. Em 1995 seria a vez de editar o almejado CD, com dez registos – “Malhão do Souto”, “Quando vou à Romaria”, “Cantiga das Casadas”, “Balada de Coimbra”, “Ó Bira, Bira”, “Tricaninhas de Aveiro”, “Arranjo de Águeda”, “S. Bentinho”, “Canção da Dobadoura” e “Ai Festas de Campo Maior”.
Para a história ficam os nomes dos consagrados artistas: Olga Castro, Elisabeth Pimentel e Helena Albergueiro (percussão e voz), Judite Gravato (flauta e percussão), José António Almeida (cavaquinho e viola braguesa), António Paulo (viola baixo), Armando Dias (percussão), António Margarido (viola), Aquiles Capela (bandolim), Paulo Gravato (flauta e cavaquinho), José Paulo (violino), João Martins (viola e percussão). Joaquim Albergueiro era o responsável técnico do som, enquanto Maria Ester era presidente da delegação do Grupo Desportivo Centro/Norte do Banco Fonsecas & Burnay.
Eduardo Jaques